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Gutemberg da Silva Barbosa

1971 - 2020

Construiu uma bela história e deixou suas marcas nas alegrias que imprimiu pelas ruas por onde dirigiu.

Gutemberg, o Guto, como a maioria das pessoas o tratavam, era um motorista de ônibus fascinado pela vida.

Este pernambucano saiu de Arcoverde com 23 anos pra tentar a vida em São Paulo, já órfão de mãe e sem saber de seu pai desde os 7 anos de idade.

Construiu uma bela história e deixou suas marcas de saudade nas alegrias que imprimiu pelas ruas por onde dirigiu e pelo bairro onde morou com sua amada Silvana por 14 anos.

Ele não era um homem muito grande, nem muito forte, mas “tinha um aperto de mão e um abraço apertado daqueles de quase quebrar as costelas da gente”, conta a enteada Criszane.

Guto era apaixonado pela família, pelo seu trabalho e pelo seu time, o Palmeiras. Também gostava muito de uma boa música nacional. Bruno e Marrone eram seus cantores preferidos. Até usava o jeans apertadinho como o dos sertanejos e a família zoava com ele por causa disso. Ele levava tudo na brincadeira.

A esposa Silvana conta que conheceu Guto em 2006 e que ele sempre foi uma pessoa doce e sem maldade no coração: "Foi amor à primeira vista. A gente se conheceu e já foi morar junto".

Gutemberg trabalhava como motorista de ônibus em São Paulo, fazendo a linha Terminal Campo Limpo - Metrô Morumbi. Mas já tinha sido motorista de lotação, motorista particular e motorista de caminhão. Dirigir pra ele era uma paixão e ele fazia isso muito bem.

Trabalhava muito e só tinha um dia de folga. E a folga era pra ir ao mercado, pra brincar com Miguel, o filho, pra tomar a cervejinha. Gostava de se divertir com a família e com os amigos em casa.

“A gente mora em uma comunidade, as casas são muito próximas. Todos os vizinhos gostavam dele, ele brincava com todo mundo. Gostava muito de ficar em casa, mas trabalhava muito, então o tempo era sempre curto. Mas quando chegava, era pra um bom prato de sopa, ou um feijão com carne seca, e uma boa brincadeira com o pequeno Miguel”, conta Silvana. Ele era saudável, nunca ficava doente nem faltava ao trabalho.

O pequeno Miguel queria uma grande festa de aniversário com o pai e agora está sem entender o que aconteceu, mas argumenta com a mãe: “meu pai era meu herói, mas agora eu queria ser o herói dele, eu queria salvar ele”. Ela diz que o pequeno se preocupa se o pai está comendo lá no céu, porque os dois comiam juntos sempre no jantar.

Guto era uma pessoa que gostava de fazer as pessoas sorrirem, todos os momentos com ele eram únicos. Ele era tudo pra toda hora, podia chamar que contava com ele. Quem passou pela vida dele era irmão. Se ele tivesse o céu, ele dava pra quem estivesse precisando.

Silvana diz que perdeu o grande amor de sua vida, mas que sabe que Jesus o quis lá com Ele. E sabe que seu Nego está na morada eterna, uma estrela no céu brilhando.

Gutemberg deixa a esposa Silvana Queiroz e três filhos: Debora, Gabriela e Miguel. Também três enteadas e uma legião de amigos-irmãos com quem dividiu suas alegrias e suas histórias em sua passagem por essa existência.

Gutemberg nasceu em Arcoverde (PE) e faleceu em São Paulo (SP), aos 48 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas esposa e enteada de Gutemberg, Silvana Queiroz e Criszane Queiroz. Este texto foi apurado e escrito por Sandra Maia Farias Vasconcelos, revisado por Didi Ribeiro e moderado por Rayane Urani em 30 de maio de 2020.