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Helena do Nascimento Carvalho

1940 - 2020

Transbordava generosidade aos necessitados. Ah, Dona Helena, que mulher especial!

Dona Helena ficou viúva cedo e, atrás do balcão de uma loja de tecidos, criou com toda a dignidade seus seis filhos: Rosângela, Rosemeri, Celso, Sérgio, Rosicler e César, que faleceu aos 20 anos, vítima de um afogamento.

Essa perda foi um sofrimento imensurável para essa mãe dedicada, mas o tempo e sua doçura a mantiveram de pé. Sorte da família, que cresceu: a vida a presenteou com 17 netos, 19 bisnetos e uma tataraneta.

Uma das filhas do meio, Rosângela, conta que a mãe era extremamente gentil e generosa. Chegava a ser inocente e os filhos a alertavam para tomar certos cuidados. Ela, porém, só queria ajudar e respondia: "Eles precisam de mim".

Isso porque passavam andarilhos na frente de casa pedindo ajuda. Dona Helena não sabia dizer não. Fazia um pratinho de comida, um café quentinho, às vezes dava até um dinheirinho. Ajudava como podia. No dia seguinte, voltavam os mesmos, outros, e lá estava ela ajudando de novo. Já a chamavam de tia, vó, querida... Ela era mesmo um amor de pessoa.

Esse cuidado ela também tinha com todos da amada família. Apaixonada por todas as gerações, tinha uma bisneta que falava pra ela: "Dona Helena, Dona Helena". Todos achavam graça, e quando ela fazia alguma "arte", a família usava o mesmo bordão, lembra com saudade Rosângela.

Seu lado zeloso se manifestava de várias maneiras. Após perder os pais, ajudou a criar a irmã mais nova, bem menina à época. Eram muito apegadas e foram mais que irmãs, pois Dona Helena sempre a tratou como filha. Quis o destino que a irmã fosse ao seu encontro quase um mês após sua partida.

Preocupava-se também que seus amores passassem sempre bem. Por isso, mesmo tendo uma culinária simples, fazia questão que não saíssem de sua casa sem comer. Almoço, janta ou lanchinho, sair com o estômago quentinho da casa da mãe é o melhor combustível da vida. Dona Helena sabia das coisas.

Já suas fraquezas eram as novelas mexicanas, que não perdia por nada, e o ator Kadu Moliterno. "A mãe era apaixonada por ele e nem sei o motivo", entrega a filha, que conta ainda que Dona Helena gostava de ouvir Roberto Carlos e amava Martinho da Vila.

"Minha mãe era simples, mas forte e amorosa. Nós vivíamos juntas. Ela gostava de jogar bingo e era só eu que a levava. Mas falo em nome de todos os filhos: ela era especial demais para nós e nos fará muita falta. Mãe, nosso amor eterno e a esperança de que esteja bem."

Helena nasceu em Curitiba (PR) e faleceu em Curitiba (PR), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Helena, Rosângela do Nascimento Carvalho . Este tributo foi apurado por Gabriele Ramos Maciel, editado por Denise Pereira, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 16 de setembro de 2020.