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Helena Souza Soares

1933 - 2020

Em sua casa, todos sentiam segurança e amor. Antes de dormir, rezava, conversava longamente com Deus.

"É difícil encontrar palavras para descrever minha avó do coração, mas aqui estão algumas: mulher de fibra, bisavó, avó, mãe, irmã, tia e sogra. Guerreira, forte, firme, batalhadora, destemida e acolhedora.", disse sua neta não biológica Nívea.

"Lembro de quando era criança e viajava com meus tios Dinho e Valquíria e toda a turma, meus primos-irmãos. Eu adorava cada segundo com essa família. Era filha única, mas solidão foi palavra inexistente em meu dicionário. Quão felizes éramos", relembrou Nívea.

A avó Helena, mulher de coração enorme, recebia a todos de braços abertos. Sempre cabia mais um em seu abraço, mais um prato na mesa, mais água no feijão. Não existia tempo ruim. Em sua casa, todos sentiam segurança e amor.

Sua voz aguda quando gritava o nome de alguém, seja de um filho, seja de um vizinho, lembra a voz da sua mãe, a vó Júlia. "Não esqueço quão alto era o grito dela quando chamava alguém naquela casa grande e tão aconchegante. Eu achava engraçado", contou Nívea.

Helena ficou viúva cedo e criou seus filhos com muita dificuldade. Teve 18 filhos no total, entre eles Val, Alda e Ậngela. Francisco, José Luiz, Stélio, Carlinhos, Antȏnio, Fernando e André.

Helena era "boa de boca", gostava de comer bem. Adorava jaboticaba, jaca e manjar de coco.

Gostava de vestir bermuda e blusa folgada de cores alegres e vibrantes. Adorava passar o tempo fazendo palavras cruzadas, crochê, assistindo ao "Roda a Roda - Jequiti" ou "A Fazenda" e, principalmente, conversando com quem quer que estivesse ao seu lado. Gostava também de falar palavrões e cantar músicas antigas.

Depois do banho tarde da noite, após a novela, gostava de se perfumar com sua colȏnia ou talco e deitar na rede. Só dormia na rede. Antes de dormir, rezava, conversava longamente com Deus e pedia alívio para suas dores e para entender o motivo de ter perdido os entes tão próximos e queridos.

"Espero que você encontre seus filhos e netos que partiram antes de você. Que você encontre paz. Que Deus te guie sempre, agora no plano espiritual", disse sua neta de coração, Nívea.

Muita luz sempre!

Helena nasceu Marituba (PA) e faleceu Belem (PA), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

História revisada por Danylo Martins, a partir do testemunho enviado por neta Nivea dos Santos Ramos, em 19 de maio de 2020.