1956 - 2020
Trabalhou desde bem cedo, foi mãe-avó-madrinha de muitos e adorava uma festa, fosse Copa do Mundo ou Carnaval.
Conhecida pela maioria como Dona Hélia, para a afilhada Shaiane era "minha neguinha véia".
Filha de pais pobres, desde os cinco anos já trabalhava. Bateu tijolos nas antigas olarias, trabalhou no roçado de mata bruta, foi doméstica. No último emprego, servia café. "É mermo uma acreana de pé rachado!", afirma Shaiane.
Mãe de sangue de três filhos e de coração de muitos outros, era uma avó-mãe para todos os seus pupilos. Foi a inúmeros velórios, sempre com uma palavra amiga nos momentos de dor.
Nas Copas do Mundo, comprava a camisa da Seleção Brasileira e pintava bandeiras, fazia faixas verdes e amarelas nas ruas. Torcia muito. Na época de Carnaval, caía na folia. Saía toda pintada de glitter, com um shortinho e blusa estilizada, tranças no cabelo e um "vamos ser feliz" com dois dedinhos para cima, ao som das marchinhas. "Agora, as festividades vão ficar sem o brilho dela", diz a afilhada.
Ninguém podia mexer em suas plantinhas. Dona Hélia amava viver na terra e cuidar das coisas que Deus criou. Tanto é verdade que ela dizia sempre: "se morrer é descanso, prefiro não descansar tão cedo."
Se as estrelas de repente brilharem mais, é Dona Hélia fazendo festa, com dois dedinhos cutucando, dançando e falando aos anjos o seu típico "e diga lá!", avisando que chegou.
Hélia nasceu em Rio Branco (AC) e faleceu em Rio Branco (AC), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela afilhada de Hélia, Shaiane Alexandra Rodrigues de Lima. Este tributo foi apurado por Jonathan Querubina, editado por Paula Garcia Corrêa, revisado por Daniel Schulze e moderado por Rayane Urani em 16 de agosto de 2020.