1952 - 2020
Quem vai à Colônia deve passar no Seu Hélio, guardião da história, homem de muito critério.
Hélio era descendente de agricultores japoneses que, assim como os colonos alemães, tiveram a região da Colônia, no extremo sul da capital paulista, como destino.
Nasceu em Casa Grande, filho de Itakaki Satomi e de Maria Watanabe, ambos do interior paulista, filhos de imigrantes japoneses.
Quando tinha seus 28 anos, Hélio passou a tocar o estabelecimento comercial de seus pais, que hoje é chamado “Bar dos Amigos do Hélio”. O local, é parada obrigatória, não só para velhos amigos, mas também para quem visita a Colônia, já que mantém uma exposição permanente de fotografias históricas, antigas, de personagens da região.
Dá quase para ouvir o barulho dos copos, tacos de sinuca e risadas, descritos por Leandro Hessel de Souza na poesia abaixo, presenteada a Hélio em 2011:
Quem vai à Colônia
Deve passar no Seu Hélio,
Guardião da história,
Homem de muito critério.
Nas paredes a memória
Da Colônia está guardada,
Nos balcões os descendentes
Tomam pinga e cervejada.
O truco é sempre franco
Ponto acima, douradão e manilha véia,
Depende de quem joga
A coisa fica sempre séria.
Mestre da sinuca,
Porém com discrição
Aí está o Seu Hélio
A quem rendemos gratidão.
Lugar certo e familiar
Ninguém deve se esquivar
Quem a Colônia visitar
No Seu Hélio deve passar,
Tomar uma e se alegrar
Ou alguma coisa petiscar.
Mariana é amiga da família de Hélio, a quem chamava de tio. Ela conta que enviou esse tributo a pedido dos familiares e de amigos de todo o bairro. E aproveita para se despedir: "É assim que você, tio Hélio, ficará guardado dentro da gente e de todos aqueles que tiveram o privilégio de cruzar a esquina da rua Carlos Rasquinho. Obrigada por tudo. Um beijo da Mari, a folgada, que chegava varada de fome do trabalho, já soltando a mochila pelo bar e pegando uma coxinha, e que teve a honra de crescer ao seu lado. Termino com uma promessa: assim que tudo isso passar, voltaremos a nos reunir em volta da mesa de bilhar e faremos a despedida em grande estilo, juntos, como você gostava". Lugar certo e familiar, ninguém deve se esquivar. E nem vai.
Hélio nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela amiga de Hélio, Mariana Belmont. Este tributo foi apurado por Carla Cruz, editado por Phydia de Athayde, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 11 de julho de 2020.