1944 - 2020
"Como agradecer ao Senhor, o que fez por mim..." — o primeiro verso de um dos hinos mais bonitos na sua voz.
Seu maior prazer era falar de seu passado, contando repetidas histórias de seus antepassados e figuras pitorescas da cidade e de futebol. Afinal, ele nasceu fluminense, de Itaperuna, e se manteve um fanático fluminense, de time e de coração.
Sua memória remota era impressionante: falava com intimidade e amor sobre a complexa árvore da família Boechat; narrava lances icônicos de célebres partidas de futebol e até mesmo de jogos da Segunda Divisão.
Juninho, como era conhecido, foi Engenheiro Civil, fez carreira na Gomes de Almeida Fernandes (atual Gafisa), assinando memoriais descritivos dos primeiros espigões da Avenida Paulista — orgulhava-se muito disso! Depois tornou-se um profissional respeitado no mercado imobiliário por vender grandes terrenos para incorporações imobiliárias.
Viveu dois grandes amores. O primeiro com sua prima, Sandra. O namoro desde a adolescência os levou a um casamento de duas décadas, com três filhos: Alexandre, Jean Pierre e Sylvie, que lhes presentearam com as netas Marina e Ornella.
O segundo grande amor foi Sula, tendo recebido os enteados, Ana Paola, Diego e Rodrigo, como filhos, em mais de vinte e cinco anos de convívio.
Juninho foi um sobrevivente e recebedor de muitos milagres. Sua vida foi marcada por dois graves acidentes automobilísticos (1975 e 2003), que respectivamente lhe "quebraram" os dois lados do corpo, e o deixaram por um fio de vida por muitos momentos.
Aliás, esse ressurgir como Fênix foi visto por seus familiares ao longo dos anos, nas "sete vidas de gato" que ele teve, pois complicações outras de saúde promoveram momentos críticos e próximos da desesperança. Mas, não. Ele sempre voltava para provar a ocorrência de novos milagres. "A partir desses eventos, buscamos estar cada vez mais próximos dele, resgatando nossos laços e vivendo uma relação de puro amor", conta a filha Sylvie.
Uma das coisas mais emocionantes para a família foi ver como ele voltou a cantar como tenor no coral que ele tanto amava, na Igreja Presbiteriana Jardim das Oliveiras, em São Paulo, por mais de quarenta anos, mesmo após perder a audição de um lado, e depois de ter sido noticiado o comprometimento de suas cordas vocais pela traqueostomia realizada em 2003. Seus solos vocais eram impressionantes e roubavam lágrimas dos espectadores. Era conhecido pelos colegas de coral, como o "Pavarotti brasileiro"!
A verdade é que Juninho era um protegido por Deus. E o foi até o final da vida. Em seus últimos anos, seu jargão para quando qualquer pessoa lhe perguntasse se estava bem era: "Sim, melhor que isso só no Céu!"
"Eu tive a oportunidade de viver com ele seus últimos momentos no hospital, onde conversamos muito; ele, curiosamente, contou histórias de personagens novos e ainda mais antigos de seu passado em Itaperuna. Rimos muito. Por diversas vezes cocei suas costas, o acarinhei o mais que pude, disse o quanto o amava, absorvendo cada minuto da sua companhia. Gravei vídeos dele no dia 9 de dezembro de 2020, seu aniversário, com mensagens para cada um da família; naquela noite, a equipe do hospital trouxe bolo surpresa e cantamos Parabéns. Sentia que era minha despedida acontecendo."
Após o diagnóstico da Covid-19, ele se foi no dia 24 de dezembro, para chegar a tempo de celebrar o aniversário de Jesus, seu maior parceiro de vida.
Certamente, Juninho está cantando no Céu e conversando com um monte de gente que ele gostaria de reencontrar. Está feliz e em paz. E nós da família também, por essa certeza.
Homero nasceu em Itaperuna (RJ) e faleceu em São Paulo (SP), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Homero, Sylvie Boechat. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Sylvie Boechat, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 31 de maio de 2022.