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Humberto José dos Santos Damasceno

1940 - 2020

Sua vida no mar foi marcada por servir em embarcações emblemáticas.

Pernambucano, nascido no bairro de Santo Amaro, no Recife, Humberto era friburguense de coração: havia adotado a cidade serrana. Conhecera Nova Friburgo na década de 1960, a partir das colônias de férias da Marinha. Tinha paixão pelo Botafogo, sentimento nascido logo no início de sua trajetória de marinheiro.

Humberto iniciou seus estudos na Escola de Aplicação Cônego Rochael de Medeiros. Cursou o Ensino Médio na Escola de Comércio de Recife, fez o curso profissionalizante na Base Naval de Recife, a Escola Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco. Formou-se marinheiro em 1959 e em fevereiro daquele ano, em pleno domingo de Carnaval, embarcou com a tropa no navio de transporte Barroso Pereira com destino à Belém do Pará.

No retorno, com destino ao Rio de Janeiro, fizeram escalas nas capitais do Maranhão, do Rio Grande do Norte, da Bahia e do Espírito Santo. A bordo do navio, a guarnição escutava o rádio. Por volta das 16 horas começava o jogo no Maracanã e o Botafogo de Futebol e Regatas tinha em sua escalação o goleiro Manga e o lateral Rildo — ambos de Recife. Era o início de sua paixão pelo imbatível esquadrão da Estrela Solitária. Seguindo viagem rumo à então Capital Federal, aumentava o sentimento de chegar e realizar o sonho de ser botafoguense.

O navio atracou na Ilha das Cobras e, após breve passagem na Ilha de Villegaignon, centro hidrográfico, Humberto embarcou no Navio Escola Guanabara, um navio alemão "misto", de propulsão a vapor e a vela, oriundo da Segunda Guerra Mundial. Humberto foi um dos últimos a desembarcar deste histórico navio, que anos depois foi vendido para Portugal e entregue à Marinha portuguesa, onde passou a se chamar Navio Escola Sagres.

Em seguida, embarcou no Navio-Aeródromo Minas Gerais, depois que este veio da revisão na Holanda, época em que atraía a atenção da esquadra, pela sua diferenciação em relação aos demais. Por volta de 1963, desembarcou na Ilha das Enxadas, para cursar eletricidade, onde permaneceu até 23 de dezembro de 1964.

Na vida civil, Humberto amava ajudar as pessoas. Era muito querido no bairro de Olaria, onde morava há muitos anos, principalmente por sua atuação em causas humanitárias e de assistência social. Conhecido por Humberto da Ambulância, trabalhou vários anos no Hospital Municipal Raul Sertã, onde foi motorista e chegou a chefiar o setor de transporte de pacientes.

Foi presidente do Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz de Olaria — tanto do Conselho Diretor, quanto do Conselho Deliberativo — e era também membro de sua Velha Guarda. Foi um dos fundadores da agremiação carnavalesca, em março de 1976.

Integrante ativo do movimento negro local por meio da comunidade pan-africana, foi um dos agraciados, em 2017 —representando os afrodescendentes, por indicação do Centro de Cultura Afro-brasileira Ysun Okê — com a medalha “Somos Quem Fomos”, distinção do Legislativo friburguense aos povos e países formadores de Nova Friburgo.

Marinheiro da Reserva, Humberto esteve internado no Sanatório Naval, e por 30 dias no CTI para Covid-19 do Hospital São Lucas, em Nova Friburgo. Era viúvo de Adélia e deixa os filhos Jefferson Damasceno e Mayka Damasceno, além de netos e netas. Deixa também uma legião de amigos no bairro de Olaria, onde seu falecimento causou grande comoção.

Humberto nasceu no Recife (PE) e faleceu em Nova Friburgo (RJ), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Humberto, Mayka Damasceno. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Girlan Guilland, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 11 de dezembro de 2021.