1938 - 2020
Cuidava das plantas e dos cachorros com todo o amor do mundo. Sabia fazer o “cheirinho do melhor café”.
Lindos olhos verdes, sorriso contagiante. Era muito querida, ou melhor, a “queridinha”, por onde passava; pois a alegria era uma de suas marcas. Assim era Idacy, um nome forte e diferente, tal como ela era e um nome do qual ela tanto se orgulhava.
Ficou viúva aos 45 anos e com oito filhos para cuidar. Em meio a essa perda, costurava e virava noites fazendo bolos para vender nas feiras. Tudo isso, para conseguir criar os filhos com muita coragem, respeito e claro, muito, mas muito amor.
Pelas batalhas impostas pela vida, tornou-se professora, orientadora e educadora. Foi um sonho que virou realidade. A professora Idacy era adorada e admirada por seus alunos, ela amava lecionar. E como os “queridinhos” a chamavam? "Tia Dacy". “Queridinho” ou “queridinha” era como ela costumava chamar alguém de quem gostava muito.
No auge de seus 82 anos, contava como lutou e batalhou para ter o diploma, as viagens realizadas e as experiências de vida, adquiridas em mais de oito décadas bem-vividas. “Duas características sempre vão me fazer lembrar dela: seu amor pelos animais (como amava seus cachorrinhos Dudu e Lolinha!) e suas plantinhas, que eram seu refúgio de todos os dias, com elas Idacy conversava, ria, cuidava...”, relembra Thaís, a mais queridinha de todas, a neta que era uma filha e que morou com ela desde os quatro anos, até o dia em que se casou. "Minha avó não era só a minha avó, ela era a minha mãe também, então era além de uma relação de avó e neta”, contou ela com o coração transbordando de emoção e amor.
Mesmo após casar, o contato entre as duas era diário. “A gente se falava muito e como ela já estava com mais de 80 anos e tinha muita dificuldade em mexer no teclado do telefone, então a gente se falava muito por vídeo”, diz.
Sempre muito comunicativa, onde chegava já fazia amizade. Idacy dizia que gostava de conversar com pessoas mais novas, porque assim ela se sentia mais nova. É possível que esse fosse o segredo de Idacy para manter seu espírito tão jovem!
Seu sonho era ver todos os oito filhos formados e com suas famílias construídas. Um outro sonho era viajar, conhecer lugares novos... Era a coisa que mais gostava de fazer.
A vida dela era uma festa, principalmente no dia 9 de fevereiro, adorava fazer aniversário. Mas também adorava presentear e não poderiam ser outros os mimos dados por Idacy: as plantinhas e as pimentas que plantava e cuidava com muito amor em sua casa — aquelas mesmas, com as quais ela conversava todos os dias. Em um dos vídeos que a neta nos encaminhou, Idacy diz: “Estou enviando para você, do meu jardim, um frasco de pimenta-de-cheiro para saborear”. Não tinha presente melhor para ser saboreado.
Idacy era também supervaidosa com os perfumes e fazia questão que seus cabelos estivessem sempre loiros.
A neta lembra que, quando a avô foi transferida para a UTI, em seu íntimo ela já sentia que Idacy não iria voltar. “Eu sentia que ia ser a despedida e que eu precisava me despedir... A minha prima fez uma chamada de vídeo, colocou o telefone no ouvido dela e eu, por telefone mesmo, tive a chance de me despedir dela. Eu sei que ninguém é eterno, que todo mundo vai partir um dia e que a gente só parte quando chega a hora, mas dói. Dói demais.”
Dentre os planos que estavam sendo feitos para quanto ela saísse do hospital estavam: ir ao salão com a neta para pintar as unhas, retocar as luzes dos cabelos e depois ainda comer uma das suas comidas favoritas — um pastel de queijo com catupiry, acompanhado de seu refrigerante predileto. Ela também tinha outra especialidade: fazer “o cheirinho do melhor café” e que agora é “uma saudade que não tem fim”, diz Thaís.
Idacy nasceu em Aracaju (SE) e faleceu em Aracaju (SE), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Idacy, Thaís Ribeiro de Lima. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por jornalista Mateus Teixeira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 11 de setembro de 2020.