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Idê Martins dos Santos

1935 - 2020

A exímia costureira de vestidos de gala, era presença constante nas festas, bingos e excursões da Terceira Idade.

Ninguém conhecia Idê por seu nome próprio. Era chamada de Tuta ou Dona Tuta, apelido que recebeu na juventude por um de seus irmãos mais novos e, pelos seus amados, era carinhosamente chamada de Vó Tuta.

Foi casada com Joaquim em uma união que durou 58 anos, até a partida dele. Tiveram quatro filhas, Haidé, Lígia, Lilian e Flávia, as quais, como uma heroína, criou e educou com muita sabedoria, com os pés no chão, norteando-as somente para o bem, para o caminho da luz.

Teve oito netos e nove bisnetos e ensinou aos seus descendentes sobre o valor da honestidade, de não sofrer nem se preocupar por antecedência e, principalmente, de viver bem o hoje, fazendo o que se tem vontade. Por isso, foi a personificação do termo "Carpe diem".

Tuta foi uma mulher forte, corajosa, generosa e visionária. Amava viver e respeitava todo tipo de diversidade, o que a fazia ser respeitada por todos. Cozinhava, costurava, agregava e brindava à vida, sempre com um sorriso lindo nos lábios, sem reclamar, apesar das adversidades. Foi um diamante precioso que esbanjou felicidade, sabedoria e vitalidade na vida daqueles que amou.

Ela encontrou nas costuras, um de seus muitos dons, sua fonte de renda. Aprendeu o ofício ainda pequena, por meio de um Curso Técnico de Corte e Costura em Sorocaba que, infelizmente, não pôde concluir. Entretanto, isso não representou para ela uma frustração. Ao contrário, passou a vida feliz e sempre com as mãos cheias de amor, confeccionando vestidos de noiva, de festas, curtos e longos. Dava o melhor de si em cada peça. Aposentou-se, sentada diante de sua companheira inseparável: a máquina de costura.

Nas horas livres, ficava sentada na área de sua casa olhando o movimento da rua e todos que passavam paravam para conversar com ela. Gostava também de conversar com sua amiga Jurema por telefone. Além disso, não dispensava os passeios e festas com as amigas do Grupo da Terceira Idade: foram bingos, excursões e muita cervejinha gelada. Sempre estava radiante, com sua alma jovem e cheia de alegria.

Sempre muito disposta, foi uma pessoa que soube aproveitar cada segundo de sua vida como se fosse o seu bem mais precioso. Sem dar importância para coisas pequenas, não sofria por bobeiras ou coisas que não valiam a pena.

Nunca reclamava de nada. Muito vaidosa, não saía de casa sem passar batom. Amava viagens e estava ansiosa para tirar o passaporte e realizar sua tão sonhada viagem à Europa, para conhecer a Itália, Espanha e Portugal.

Idê possuía também o hábito de tomar uma cervejinha enquanto preparava o almoço. Cozinhava divinamente bem e seus quitutes eram muito apreciados por todos os familiares, como o famoso bolo de água, pães caseiros, pudim, pavê e a torta mineira, preparada com muito carinho em todo Natal.

Segundo recorda Fabiane, namorada do neto de Idê: "Todo sábado, Vó Tuta nos esperava com um bolo delicioso e pãezinhos caseiros. Passávamos horas conversando. Ela era extremamente sincera, tendo sempre muita sabedoria para lidar com os desafios; otimista, via o lado bom de tudo, mas sem tirar os pés do chão. Ela era incrível! Sempre me lembro com carinho dos momentos que passei ao seu lado e de como me senti acolhida, quando comecei a namorar com o seu neto aos dezessete anos. A partir daí nos tornamos amigas. Fico emocionada ao me lembrar do orgulho em seus olhos quando ela falava 'minha neta'".

Idê nasceu em Salto de Pirapora (SP) e faleceu em Sorocaba (SP), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Idê, Fabiane Carvalho. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Magaly A. da Silva Martins e Marília Ohlson e moderado por Ana Macarini em 13 de dezembro de 2021.