Ildemar Cavalcante Guedes

1952 - 2020

Era um médico que se doava totalmente para o povo.

Ele se cuidava para chegar bem aos 100 anos, mas a Covid-19 não estava em seus planos.

Médico, contaminou-se no trato dos seus pacientes, aqueles a quem nunca abandonou. Amava o que fazia e era reconhecido por uma multidão.

"O que mais me impressionava no meu sogro era ter opinião sobre os mais diversos temas. Isso fazia com que nossas conversas tivessem um tipo de encantamento. Eu mudava, de repente, os assuntos só para vê-lo reconectá-los", são as palavras de admiração e respeito do genro José Luis pelo sogro.

"A maturidade trouxe a ele um senso de equilíbrio para o diálogo, inclusive para os assuntos mais sensíveis. A política, antes campo minado, nos últimos anos permitia-nos ouvir e entender o outro lado."

O genro conta que certa vez lhe perguntou o porquê de cobrar tão barato pelas consultas. A resposta foi a essência da sua vida: “Fui um garoto pobre. Sempre estudei em escola pública. Fiz uma universidade paga pelo povo, então, não acho justo cobrar um valor que não possa (o povo) me pagar”.

E foram milhares e milhares de atendimentos, muitos deles gratuitos. Essa foi sua maneira de contribuir no combate à desigualdade.

"Quando mais precisei, ele investiu em mim. Era um dos propulsores da minha carreira. Eu fazia sempre muito mais, para que ele se orgulhasse", diz José Luis.

"Ateu durante toda a vida, decidimos crer que, durante os cinquenta e dois dias de internação, teve oportunidade de entender que há um Deus. Que tivesse aceitado a salvação e que sua existência continuaria."

Assim José Luis encerra: "Foi com base nessa fé que contei para a Olívia que seu avô não morreu, só voltou para casa. Sim, nós cremos. E lamento que tenha faltado uma última conversa, mais uma pizza com vinho em minha casa".