1941 - 2021
Um avô que ensinou que o amor está estampado nas pequenas coisas da vida, basta você olhar com calma e ternura.
Pelo batismo e documentos foi nomeado Ildeu, mas para a família era o Barbosão: o Vô Barbosão.
Grande parte da vida foi funcionário da Rhodia, trabalhava por turnos e, quando chegava em casa, tinha a difícil tarefa de conseguir dormir enquanto as quatro filhas animadamente conversavam e cresciam.
Honesto, respeitoso e muito amado pela família e pelos amigos, Ildeu era daquele tipo calmo, feliz e, sobretudo, o dono dos melhores abraços, que distribuía generosamente entre os filhos, quatro netas e também para o pequeno Eduardo, o bisneto.
Ele amava pão de queijo com cafezinho passado há pouco. Seu doce preferido era o de laranja-da-terra. Era conversador e muitas vezes começava a contar suas histórias e causos mineiros assim: "A bem da verdade..."
Foi um mineiro que não negou suas raízes até o final da vida: seu último desejo foi comer marolo ─ a fruta da quaresma; o gostinho dessa iguaria nativa do Cerrado e do Sul de Minas, de gomos amarelados e sabor marcante, dessa vez ficou só na lembrança.
"Ele era dono de um olhar doce e o melhor contador de histórias que já conheci", diz a neta Marina.
Barbosão, o Vô Barbosão, agora não precisa mais esperar pela quaresma para saciar suas vontades. É bem possível que do lado de lá, onde quer que ele esteja, exista um portal direto para um pomar repleto de marolos e laranjas-da-terra e, dentre tantas coisas e tanto legado, a neta sabe que Deus nos cuida nos detalhes e considera que o avô ainda continua ensinando que "para o amor não existe tempo nem distância".
Ildeu nasceu em Belo Horizonte (MG) e faleceu em Campinas (SP), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Ildeu, Marina Barbosa Azevedo. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 31 de março de 2021.