1935 - 2020
Avó batalhadora, muito amada por todos, tão calorosa que esquentava até corações.
Nasceu e cresceu numa vida simples e pacata, dentro das tradições interioranas do Norte de Minas. Em 1952, quanto tinha dezessete anos, se casou pela primeira vez com Manoel e teve cinco filhos. Apesar de naquela época as mulheres serem educadas para manterem o casamento a qualquer custo, Ilma não aceitou para si essa condição. Diante das diferenças com o marido, resolveu se separar. Mas não desistiu do amor e casou-se de novo, com José, com quem teve mais três filhos.
Depois de um tempo, o segundo relacionamento também se desfez, e então a mulher batalhadora, cheia de determinação, resolveu deixar o Interior de Minas em 1967 e foi com os filhos para a capital, Belo Horizonte, onde construiu a casa onde morou até o final da vida. Trabalhou um tempo como empregada doméstica, recebeu apoio dos filhos mais velhos e dos amigos, mas se manteve independente o mais que podia. Dava exemplo ao dizer: “É importante fazer tudo bem feito e não esperar que alguém faça as coisas por você”. E foi assim, dona de si, que a matriarca construiu sua história.
Nesse compromisso com a autonomia, mantinha-se ativa o tempo todo. Bordava e cantava. Fazia panos de prato com temas de flores e animais. Lia os livros kardecistas que lhe traziam bons ensinamentos espirituais. Não ficava parada, estava sempre em movimento, cozinhando, lavando, animada, com um sorriso no rosto. Ia fazendo tudo sem pedir nada pra ninguém. Excelente cozinheira, se esmerava para agradar os netos com os pratos preferidos de cada um: bacalhau, lasanha, feijoada, todos tinham seu desejo atendido... Diziam na família que ela deveria ter aberto um restaurante, tão boa que era na arte da culinária.
É inesquecível o jeitinho peculiar dela andar com os braços cruzados para trás, que fizeram sua marca registrada. Carinhosa, generosa, fazia amizade com todo mundo, era muito amada por parentes e amigos.
Deixou muita saudade entre os seus sete filhos que estavam sempre por perto: Maria Francisca, Antônio José, Nilda, Manuelita, Cláudia, Rogério e Roberto. E, quem sabe, esteja agora no lugar dos mistérios, ao lado da filha Angélica, que já era falecida há muitos anos. Uma das netas, Ana Clara, era unha e carne com a avó, e sente por ela eterna gratidão. “Minha avó era como se fosse o sol pra mim; me dava calor, luz, me induzia aos sorrisos mais cintilantes”, ela diz com o coração quentinho de amor.
Ilma nasceu em Rio Pardo de Minas (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Ilma, Ana Clara Pires. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Bettina Turner, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 13 de março de 2021.