1937 - 2020
"Ei, mas aqui pra nós" era sua maneira de dividir alguma confidência.
Mãe de oito filhos, Iracema criou todos muito bem. Os oito, orgulhosos da mãe que tiveram. Era a felicidade de seus filhos, netos e bisnetos.
Amiga, parceira, confidente. Dona Lúcia, como era conhecida, sempre ajudava quem precisasse, mas não antes de reclamar um pouquinho.
Sua rotina era sagrada: acordava, fazia um cafezinho - seu maior amor depois do seu Mimi - e sentava-se à mesa. Adorava ver televisão e todos os personagens da novela recebiam uma crítica sua. Não tinha uma personagem que ela não achasse muito "abusada" ou "enxerida".
"Vovó contava-nos histórias sobre como foi crescer em Belém e como as coisas eram diferentes. Desde a época de Paris n'America, uma loja que havia sido de sua madrinha", lembra carinhosamente o neto João.
Só saía de casa se fosse para ir à missa ou ao médico. E, mesmo assim, foi vítima dessa pandemia.
O número de telefone que manteve por mais de 15 anos, hoje, não tem mais sua voz do outro lado da linha. Dona Lúcia deixa uma saudade infinita e um amor insubstituível.
Iracema nasceu em Belém (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo neto de Iracema. Este tributo foi apurado por Sabrina Legramandi, editado por Mariana Coelho, revisado por Didi Ribeiro e moderado por Rayane Urani em 29 de maio de 2020.