Sobre o Inumeráveis

Iracema Pereira da Silva

1965 - 2020

Dedicação e amor ao som do romantismo de Amado Batista.

"Existem momentos na vida, que lembramos até morrer". Este é o começo de "Seresteiro da Noite", uma das canções favoritas da maranhense Iracema Pereira da Silva, que era apaixonada pelo cantor Amado Batista.

As músicas de Amado embalavam quase todos os momentos do dia a dia de Irazinha, como era conhecida pelos amigos e familiares. Em seu celular, os vídeos do cantor romântico a acompanhavam nos afazeres de casa, no vinho que gostava de tomar no final de semana e até para ninar o neto de 1 ano e 8 meses.

O pequeno Isaac era o seu outro xodó. Ela cuidava dele durante a semana, enquanto a filha trabalhava. Mas não conseguia ficar longe dele e muitas vezes fazia a filha visitá-la aos domingos, apenas para ficar mais tempo com o neto.

O bebê não era o único neto de Irazinha. Também tinha outros, já adolescentes. Para eles, ao invés de ninar ao som de Amado Batista, contava as histórias de quando quebrava coco babaçu no interior do Maranhão e dava conselhos para que continuassem estudando para conseguir um bom emprego.

O amor de Irazinha não era transmitido somente no carinho aos familiares, mas também na ajuda que dava aos vizinhos e conhecidos. "Ela ajudava uma amiga cadeirante e todos os dias passava na casa dela, comprava pão para a amiga. Ela ia à casa de cada uma das amigas para saber se precisavam de alguma coisa", conta Edilene, filha de Iracema e mãe de Isaac.

Foi ela quem esteve presente nos últimos momentos da mãe, que ficou internada na UBS José Lins, em Manaus, onde viviam. E nem em seus últimos momentos Irazinha se esqueceu dos netos: "quando vi uma lágrima descer em seu rosto, ela disse pra eu cuidar do neném dela".

Assim como cantava Amado Batista em “Seresteiro da Noite”, Irazinha ficará presa nos sentimentos de cada um dos familiares "e o tempo não vai apagar".

Iracema nasceu em São Bento do Codó (MA) e faleceu em Manaus (AM), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Iracema, Edilene da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Cleberson Alcântara dos Santos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 9 de agosto de 2020.