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Izabel Maria de Jesus Gonçalves

1951 - 2020

Seu lugar favorito no mundo era Caldas Novas, embora fosse para qualquer lugar onde sua família estivesse.

Foi mãe de seis filhos, oito netos e uma bisneta, e os queria sempre o mais perto possível dela, para que eles pudessem aproveitá-la ao máximo. Não era de guardar mágoas de ninguém, era amiga até do seu ex marido, pai dos seus filhos. Izabel tinha também duas calopsitas, e as tratava como filhos mais novos. Os bichinhos até mesmo aprenderam a avisar-lhe que seu telefone estava tocando, pois ela tinha dificuldades para ouvir do lado direito.

Sempre preocupada com todos ao seu redor, ela tomava as dores de qualquer um para si, e resolvia qualquer problema que estivesse tirando o sono dessa pessoa de forma rápida e certeira. Caridosa, gostava de ajudar quem pudesse, sem se importar se teria que tirar coisas de dentro de sua própria casa em benefício do outro. No meio da pandemia, na época de escassez das máscaras, Izabel conseguiu produzir 200 delas, junto com uma das suas filhas para doar àqueles que não estavam conseguindo comprar, e só vendia para quem podia pagar.

Izabel foi uma pessoa iluminada. Tinha alguns barracões de aluguel, e durante os tempos difíceis, ajudou seus inquilinos com doações de comida, corte de aluguéis pela metade, e mobilizou outros moradores para que contas de luz e água pudessem ser pagas.

De boa com a vida, Izabel nunca deixava nada para depois. Ela ligava para seus filhos todos os dias, e cantava lindas canções ao telefone. Mandava áudios cantarolando também no WhatsApp, áudios estes que são ouvidos todas as noites para matar um pouquinho da saudade absurda que a mãe faz.

Izabel era muito festeira, gostava de dançar um forró, e falando em festa, é tradição da família fazer uma comemoração no aniversário dos pais como homenagem a eles, para toda a família se reunir, até mesmo os parentes mais distantes. Izabel amava essa data, e se empenhava muito para que tudo corresse bem quando era sua vez de organizar. Na vez de Izabel, a festa foi a mais bonita que a família já teve. Inesquecível.

No dia de seu segundo casamento, devido a um atropelamento, ela estava com sua perna quebrada. Como não existiam obstáculos para ela, Izabel decidiu adentrar a Igreja com a perna engessada mesmo, e casou-se assim. O importante era seu casamento naquele dia, e nada mais. Determinada, descasou-se também quando quis.

Uma vez, ela viajou para Caldas Novas, e prometeu que voltaria então todos os anos. Era seu lugar favorito no mundo, embora preferisse qualquer lugar onde sua família estivesse. Ela se apaixonou pelas águas quentinhas do lugar, e amava participar do bingo e do forró inigualáveis de lá.

Izabel foi uma mulher guerreira, que lutou tudo o que pode, até quando não podia mais. Ensinou aos filhos o valor da família, e que não há nada melhor do que o abraço da mãe, do pai e dos irmãos. Ensinou-os a viver as alegrias, e os problemas juntos, sem nunca um soltar a mão do outro. Izabel se foi, mas sua grandiosidade ficou, para unir ainda mais os laços de sua família, com amor, carinho e ternura, fazendo-se presente nas memórias daqueles que a amavam.

Izabel nasceu em Belo Horizonte (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho e pela filha de Izabel, Abraão Elvis Gonçalves e Vanessa das Graças Gonçalves. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Letícia Virgínia da Silva, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 27 de maio de 2021.