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Jacinto Vicente da Silva

1934 - 2020

Era um andante do mundo, com ânimo constante para a vida. Um católico fiel e devoto de Nossa Senhora.

Jacinto era um patriarca querido de uma família muito numerosa: seis filhos, 15 netos, 15 bisnetos e um tataraneto. Era um homem alto, com mais de 1,90m, forte, daquele tipo que quando abraçava ou dava um aperto de mão, conta a neta Priscila, “parecia que ia quebrar as costelas ou os dedos da gente”. No pulso forte não faltava o relógio. Se saísse sem relógio, tinha que voltar para buscar, não tinha jeito. “Minha avó logo fazia as vontades dele”, conta a neta Valéria. E ela completa: “dá uma alegria de lembrar disso”. Jacinto sorria com os olhos, conta Priscila. E olhava para o mundo com seus olhos castanhos grandes, sempre questionador, por trás dos óculos e por baixo da aba do boné que ele nunca tirava. Aliás, diz a família, ele tinha uma coleção de bonés, eram sua mania: relógio, boné e futebol. Mas boné era o presente que ele sempre queria e ganhava.

Torcedor fanático do Santos, Jacinto chegou a criar equipes próprias de futebol e ali, conta dona Maria das Dores, sua esposa, “ele brigava muito por causa desse time”. Queria que fosse o melhor! Ensinou os filhos a jogar futebol. Era tão apaixonado por esse esporte, que sua paixão pelo Santos Futebol Clube foi passada de geração em geração, fazendo quase toda a família ser santista também. Inclusive os netos.

Jacinto saiu de Campina Grande (PB) com sua amada Maria das Dores da Silva para tentar a vida em São Paulo e ali se instalou para sempre. Construiu sua grande família, mas sempre guardou um pedacinho do Nordeste dentro do peito, passando para os filhos e para os netos o sabor da culinária que Maria das Dores enchia os olhos e os pratos na mesa em dia de festa: a carne de sol, a macaxeira, a tapioca, o cuscuz... Os filhos e os netos aprenderam a apreciar as guloseimas da terrinha natal desses dois desbravadores. Também do Nordeste, Jacinto trouxe a paixão por Luís Gonzaga, o Rei do Baião, de quem amava recitar poemas e cantar e dançar o célebre ABC do Sertão. As filhas Sônia e Sandra relembram com saudade muitos momentos de suas cantorias alegres em família.

Era canto, era dança, era poesia... Apesar de um pouco de dificuldade e da bengala que já usava, a neta Priscila lembra das excursões que fizeram muitas vezes para Aparecida do Norte: “eram maravilhosas! Ele sempre muito alegre, cantando, dançando”. E complementa: “É assim que vou me lembrar dele”.

Jacinto nasceu em Campina Grande (PB) e faleceu em São Paulo (SP), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Jacinto. Este tributo foi apurado por Phydia de Athayde, editado por Sandra Maia, revisado por Rosana Forner e moderado por Rayane Urani em 1 de junho de 2020.