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Jairo Manoel Murari

1940 - 2021

Um grande colecionador de histórias de pescador ou as da época de ferroviário, que viveu espalhando exemplos de integridade.

Jairo sentia plena satisfação em contar sobre passeios a cavalo feitos pela região onde nasceu, principalmente nas cidades capixabas de São Mateus e Colatina. Relembrava com saudade a demora das viagens, as estadias que o acolhiam e a simplicidade da época.

"Seu" Atílio Murari, seu pai, teve um comércio em Vitória. Ali ele trabalhou durante a adolescência e contava casos pitorescos da capital capixaba durante a década de 1950, assim como histórias dos boêmios que frequentavam o estabelecimento da família.

Foi casado com Maria do Carmo, que todos conheciam como Dona Lilia. Os dois se conheceram na cidade de Rio Piracicaba, interior mineiro, quando ele foi trabalhar na estação ferroviária da Vale do Rio Doce. O casal permaneceu junto por cinquenta e quatro anos, até a partida dela, em novembro de 2019.

Um marido espetacular e completamente devotado à esposa e à família. Pai de duas filhas, tinha o mais completo amor por elas e pelos netos, que viam nele um amigo e companheiro para o cotidiano. Pelo genro Giovani foi amado como um segundo pai.

Jairo era a alegria e a honestidade em pessoa. Como pai e avô foi exemplar! Viveu feliz com a família e sentiu muito a perda de sua amada esposa. Ético ao extremo, nunca buscava atalhos, nem se aproveitava das situações mesmo em momentos difíceis. Fazia o que precisava ser feito e com esmero. Era um homem do bem.

“Durante toda a vida, trabalhou em ferrovias como Chefe de Estação. Sabíamos que, muitas vezes, ele ficou isolado em estações de carga e descarga de produtos, geralmente minério, em cidades mineiras. No exercício da profissão, lutou contra o frio intenso nas madrugadas e levou alguns sustos com os barulhos noturnos”, conta com admiração o genro Giovani.

Giovani também fala de uma lembrança que carrega sempre na mente: “Certa vez, fomos a uma pescaria, ele, meu pai, um cunhado e eu. Nessa pescaria, meu pai, que tinha uns vinte anos a mais que o Seu Jairo, ficou engasgado com um pedaço de torresmo e, na desorientação para se desfazer do alimento, quase caiu no rio. Quando ele estava prestes a despencar, foi o Seu Jairo quem o segurou, não deixando que nada de ruim lhe acontecesse. Naquele dia, foi um episódio bastante estressante, mas depois tornou-se uma história de pescador...”

No passado, visitava com frequência os parentes no Espírito Santo e também amava pescar em alto-mar. Nos últimos anos, usava seu tempo livre para assistir filmes de faroeste, ouvir músicas sertanejas, acompanhar missas e rezar.

Giovani conta que as comidas favoritas dele eram tortas de bacalhau e moquecas de peixe feitas à moda capixaba. Era um torcedor do Fluminense, no Rio de Janeiro e, em Minas Gerais, para contragosto do genro, torcia para o Cruzeiro.

Finalizando, Giovani fala sobre os aprendizados que teve com o sogro: “Retidão e amor à família, tal qual aprendi com meu pai. Ele me tratava como filho e pude ver nele as mesmas atitudes de correção e respeito que via no meu pai. Deixou-nos os melhores exemplos e as melhores lembranças”!

A filha de Jairo também foi vítima da Covid-19. Para conhecer um pouco da história dela acesse a homenagem a Nilza Antônia Guimarães Murari neste memorial.

Jairo nasceu em Colatina (ES) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo genro de Jairo, Giovani Ângelo de Souza. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e Marília Olson e moderado por Ana Macarini em 28 de fevereiro de 2023.