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Jeiel de Lima Dantas

1957 - 2021

Nos dias que o Flamengo jogava, vestia logo cedo o manto rubro-negro para assistir as partidas ao lado do filho.

Se fosse possível definir Jeiel em apenas uma palavra, certamente, a escolhida seria generosidade. Com sua incrível disponibilidade em servir os outros, encarava todas as circunstâncias da vida com olhos bondosos, que apontavam sempre para o lado positivo das situações.

Para ele, a família era definitivamente seu firmamento. Como filho, tinha um cuidado todo especial com a mãe, Dona Diva. Todos os meses tinham um encontro marcado para almoçarem juntos. Além disso, Jeiel ia constantemente na casa da mãe para conversarem e para saber como ela estava.

Como pai, não media esforços para a garantia do bem estar dos filhos, Aline e João Gabriel, por quem era completamente apaixonado.

Para o restante da família, era a presença constante nas comemorações. "Nós sempre nos reuníamos em datas festivas e às vezes durante a semana. Nessas ocasiões, Jeiel ficava responsável pelo preparo dos petiscos que acompanhavam as rodadas de cerveja durante as nossas conversas. Ficávamos ansiosos para degustar os aperitivos feitos por ele, pois tinham um sabor único, especialmente o torresmo, sua marca registrada", recorda a cunhada Valéria.

Funcionário público federal, exercia com muito apreço seu trabalho em uma instituição de assistência farmacêutica. Por lá, mostrava-se sempre solícito com todos, solucionava com proatividade e gentileza tudo que lhe era demandado.

Apaixonado por futebol, seus momentos de lazer eram dedicados ao esporte. Nos dias de jogos do América de Natal, acordava bem cedo para preparar seus famosos torresmos, que eram colocados em uma sacola junto a uma garrafa de aguardente. Já no estádio, enquanto assistia às partidas, fazia questão de dividir as iguarias com quem estivesse lhe acompanhando.

O amor pelo Flamengo era um capítulo à parte em sua vida: nos dias de jogos, vestia com muito orgulho o manto rubro-negro, como ele se referia à camisa do time. Durante os noventa minutos da partida, se mantinha vidrado em frente à televisão, sempre na companhia de seu filho, João Gabriel. A cada lance do jogo, era possível ouvir de longe a vibração dos dois.

Em vida, a cada gesto de bondade compartilhado, Jeiel foi pouco a pouco conquistando o carinho e a admiração de todos ao seu redor, que carregam consigo uma forte saudade e inúmeras recordações de alguém, que fazendo chuva ou sol, sempre podiam contar. Para a cunhada Valéria: "Ele está agora ao lado do Seu Haroldo, pai dele, olhando pelos que aqui ficaram". Com um coração tão puro e repleto de amor, fica a certeza de que ele descansa em um bom lugar.

Jeiel nasceu em Natal (RN) e faleceu em Natal (RN), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela cunhada de Jeiel, Valéria Motta da Nóbrega Dantas. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Andressa Vieira, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 3 de maio de 2022.