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João Antônio Alves Fontella

2001 - 2021

Ajudou a plantar as flores do jardim, e sempre que a papoula floresce, sua presença é sentida.

João Antônio era irmão gêmeo de João Gabriel e sempre chamou a atenção de todos por se parecer com um anjinho de cabelos dourados.

Um carioca que vivia em Cuiabá. Menino alegre e tão inteligente que conseguiu ser aprovado no vestibular de Engenharia Civil na Universidade Federal de Mato Grosso aos 16 anos.

Tinha os sonhos de fazer intercâmbio na Irlanda para estudar inglês e seguir a carreira acadêmica e, por isso, desde o primeiro semestre da faculdade se ofereceu para fazer mentoria na sala de estudos do seu curso que hoje, leva o seu nome como uma homenagem feita por professores e alunos da UFMT.

Seus interesses não se limitavam somente aos estudos. Desde pequenininho jogava vôlei e chegou a disputar o campeonato nacional infantil em Fortaleza e seguiu jogando como hobby até uma semana antes de adoecer.

Era um cantor de chuveiro nato e em sua playlist bem eclética e aleatória não podia faltar Kate Perry, Pitty, Marília Mendonça e Cold Play e, inclusive conta a mãe Célia, que já apareceu em seus sonhos cantando a música Yellow para ela.

Célia conta muitas cosias sobre João Antonio. Diz que era dono de um humor ácido constrangedor que ela adorava; que era muito tímido em festas e eventos, “até tomar dois goles de qualquer bebida alcoólica e ficar rindo para as paredes...”

Ela fala de suas doces lembranças:

“Era meu parceiro de reality show, e me faz muita falta toda vez que assisto Master Chef, Pesadelo na Cozinha, Amor fora das Grades e The Circle. Tinha a voz dengosa, e sempre acordava dizendo 'bom dia, mamãezinha linda do meu coração'.

Me fez adotar um gatinho, e o nome escolhido por ele foi Glauber, mas depois descobrimos que era fêmea, e o Glauber virou Pitty. Me ajudou a plantar as flores do jardim, e todas as vezes que a papoula floresce, eu sinto a presença dele.

Um dia antes de testar positivo para Covid-19, passamos a tarde deitados no sofá assistindo TV enquanto eu fazia cafuné nos cachinhos dele. Ele perguntava sobre minha gravidez, fazendo comparações do tamanho do feto com tamanho de frutas e legumes.

Foi internado um dia antes de seu aniversário e a cesta de café da manhã que eu havia encomendado para ele ficou sobre a mesa. A última mensagem de WhatsApp que recebi dele foi 'eu te amo também'.

Até hoje eu leio suas mensagens e ouço seus áudios com medo de esquecer sua voz. Quando a saudade é insuportável, eu peço a Deus que ele me visite nos sonhos, e ele sempre vem!”

João nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Cuiabá (MT), aos 20 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela mãe de João, Célia Alves. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 6 de julho de 2023.