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João Aparecido Mendes

1962 - 2020

Tinha como propósito fazer a vida de quem ele amava mais feliz.

Tendo uma infância humilde, começou a trabalhar no campo ainda criança, para auxiliar no sustento de sua família. Dessa época, guardou muitas recordações felizes: contava sempre sobre o quanto ele corria pelas lavouras de café; de como eram as festividades no pequeno distrito em que cresceu; de quando aprendeu a dirigir um carro Fusca.

Na juventude, decidiu guiar-se por seus sonhos e partir rumo a São Paulo, em busca de melhores oportunidades, deixando todos os seus pertences aos pais, Benedita e José Belmiro. Estava convicto que em terras paulistas, construiria uma nova vida.

Já em São Paulo, logo que chegou, hospedou-se na casa daqueles que mais tarde viriam a se tornar seus sogros. Ali, conheceu e encantou-se por Ana, o grande amor de sua vida. Os dois se casaram, permanecendo juntos por vinte e nove anos, até a partida dele. Devotado à amada, fazia o que estivesse ao seu alcance para agradá-la: como preparar o café da manhã e levar até a cama, além de viajarem à praia, sempre que possível. Da união entre os dois, vieram os filhos, Priscila e Fernando.

Pai amoroso, sentia-se plenamente feliz quando estava ao lado da esposa e dos filhos. Para João, a vida tinha muito mais graça ao ser compartilhada com quem ele mais amava: as refeições tinham um sabor especial quando todos se reuniam à mesa; e as conversas eram mais divertidas quando os quatro se juntavam para assar uma picanha e dividir algumas cervejas no tradicional churrasco em família aos domingos.

A família era sua base de sustentação e o que o movia a ir além, não medindo esforços em prover o melhor para o seu lar. "O meu pai era uma pessoa extremamente abnegada, priorizando sempre a nossa família e nunca poupando gastos conosco. Todas as vezes que ia à feira, me presenteava com churros deliciosos e sempre trazia diversas guloseimas da padaria para lancharmos todos juntos. Ele tinha o prazer em nos ver felizes", comenta Priscila.

A filha também se recorda de uma lembrança muito especial ao lado do pai: "Na minha formatura da faculdade, foi emocionante presenciar o orgulho estampado em seu rosto: ele estava com um enorme sorriso e com um brilho nos olhos que iluminava o ambiente".

Extremamente empenhado e responsável, nunca faltava a um dia de trabalho ou negava horas extras. Com seu jeito divertido, era muito bem-quisto entre os colegas da empresa. Tinha o desejo de que, após sua aposentadoria, pudesse empreender ou possuir algum meio de investimento para garantir uma velhice confortável a ele e à sua esposa. Suas mãos calejadas evidenciavam alguém que, desde muito cedo, compreendeu o valor do trabalho e que, graças a isso, pôde prover o sustento de sua família e se alegrar por inúmeras conquistas na vida.

Nas horas livres, saía para comer lanches ou ir ao rodízio de comida japonesa. Amava assistir a filmes de artes marciais, ficando com os olhos fixos na televisão nas cenas de luta ou com muita ação. Tinha a mania de testar o inglês da filha pedindo para que ela traduzisse músicas do rádio em tempo real. Sempre que possível, visitava seus pais e seus amigos no Paraná. Mantinha-se ocupado, mesmo nos dias de folga, sempre procurando algo para realizar reparos ou fazendo compras para casa.

De alma pura, não guardava mágoas e sempre exercia o perdão: mesmo após discussões, era comum que demonstrasse boa vontade para auxiliar em algo, como se nada tivesse ocorrido. Possuía um abraço acolhedor que desmanchava o mais duro dos corações. Extremamente carismático, todos gostavam de sua companhia, sendo chamado carinhosamente de 'queridão' entre seus familiares.

Amável, quando recebia visitas, fazia questão de que os convidados se sentissem em casa, fazendo o impossível para agradá-los e sempre insistindo para se servirem. Ele não sossegava enquanto as pessoas não estivessem satisfeitas. Sua bondade não se resumia apenas às pessoas, mas a todos os seres vivos: cuidava com todo amor e carinho dos animais de rua perto de sua casa e ensinou aos filhos o valor da natureza.

João foi um homem de hábitos simples e de coração nobre. Deixou como legado o entendimento de que as boas ações praticadas falam mais sobre quem somos do que qualquer palavra dita e de que não há nada mais valoroso do que os momentos vividos ao lado de quem se ama. Ele, por sua vez, colecionou tantas lembranças inesquecíveis, que se fez eterno em inúmeros corações.

João nasceu em São Sebastião da Amoreira (PR) e faleceu em São José dos Campos (SP), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de João, Priscila Proença Mendes. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Andressa Vieira, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 11 de fevereiro de 2022.