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João Batista de Brito

1946 - 2020

A luta não o intimidava. Agarrava com unhas e dentes as oportunidades da vida. Ah, a vida! Como aproveitou.

João foi e sempre será a melhor tradução da palavra pai: com todos os três do coração e com os seus quatro filhos biológicos.

Gavetinha, Velho, Velhote e Painho eram alguns dos codinomes de João, o contador de histórias, ou melhor, de vitórias. E, sendo mais prudente ainda: de superações ─ que foram muitas.

Nascido na região da cidade baixa, em Salvador, o soteropolitano raiz mudou-se para Maceió a trabalho em 1985. Na capital alagoana formou família, criou histórias e recebeu uma das maiores provas que ninguém explica: foi diagnosticado com uma doença cardíaca, com estimativa de vida de apenas seis meses. "Isso no tempo dos homens, mas não no tempo de Deus", sentencia a filha Jéssica.

João Batista foi abençoado com um transplante cardíaco em tempo recorde na fila de espera: em apenas uma semana recebeu um novo órgão que devolveu sua vitalidade e alegria. Foi capa de jornais, concedeu entrevistas no propósito de alavancar uma campanha de sensibilização para doação de órgãos... Enfim, o transplante deu certo.

Seu João Perna de Sabiá, como era conhecido pela equipe médica, contribuiu e logo depois outras pessoas foram contempladas com doações de órgãos. Que ser iluminado!

Em 2015, retornou à cidade natal para acompanhar uma filha. Quantos momentos maravilhosos a cada saída pelas ruas da sua Salvador, uma lembrança da infância feliz; dos passeios de bicicleta, dos jogos de dominó nas praças, dos domingos de praia e das festas populares, tudo era motivo para boas recordações e longas risadas.

Na esperança da vida eterna, nosso João deixa esposa, sete filhos, oito netos, dois bisnetos, dezenas de amigos e admiradores e uma saudade sem fim.

"Que saudade de entrar na sua casa e ouvir: 'Queriiidaaa, me dê um abraço', recorda Jéssica a cada vez que fecha seus olhos e vê ainda o pai de abraços abertos e com um sorriso largo nos lábios.

"Que saudade de responder à famosa pergunta: 'Tem banana em casa. Quer levar?'", continua a filha em suas lembranças.

"Que saudade de abrir a bolsa e encontrar uma banana que você colocou escondido, já pensando no lanche. Que saudade daquele banho de mar junto com você... Pai, todas as vezes que eu vir o mar, ou ouvir o barulho das ondas, ou ainda sentir o cheiro da maresia, lembrarei de ti, lembrarei do grande amor da minha vida", finaliza Jéssica que ainda faz questão de deixar um agradecimento para toda a equipe de saúde e para todos os amigos que fizeram parte dessa longa jornada. "Vocês foram sensacionais!"

João nasceu em Salvador (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de João, Jéssica Moraes de Brito. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Lígia Franzin, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 24 de dezembro de 2020.