Sobre o Inumeráveis

João Batista dos Santos Nascimento

1974 - 2021

Sem medo de ser feliz, dançava forró até se acabar, e dava show reproduzindo os passos que aprendia na internet.

João Batista conheceu cedo o peso da responsabilidade na vida. Aos 13, perdeu o pai e precisou começar a trabalhar para ajudar no sustento dos oito irmãos, sendo ele o mais novo entre os homens.

Não demorou a se encontrar profissionalmente como mecânico de primeira, atividade que exerceu até o fim da vida. Conseguia encontrar qualquer defeito após uma simples voltinha para ouvir o barulho do carro levado para o conserto.

Esforçado, não gostava de ficar parado e ia trabalhar mesmo quando estava doente! Tamanha dedicação lhe rendeu uma conquista notável: o filho Robson conta que ter a sua própria oficina mecânica foi uma das coisas mais especiais que o pai conseguiu através de muito suor.

A oficina foi nomeada de Stopcar e o Nego João passou a ser chamado também de "Joãozin da Stopcar". Ele não tinha clientes, tinha amigos que habitualmente o presenteavam com tudo quanto é tipo de coisa, especialmente comida: peixes, polpa de fruta, doces… e ele dividia tudo com os funcionários e a família.

Na adolescência, ele conheceu Elisângela. Não demorou muito e foram presenteados com a chegada da filha Daiane e depois, nasceram Robson e Mateus. Desde sempre, a preocupação do pai era garantir que nada faltasse a seus filhos e esposa, e assim o fez. É Robson quem conta que João Batista "cuidava da família de uma forma muito linda", explicando que fazia questão de dividir tudo.

Os conhecimentos, João não guardava só para ele, fazia questão de compartilhá-los. Daiane conta que aprendeu com o pai a aproveitar a vida, "dançar, ser feliz e nunca dar ouvidos ao que os outros dizem". Generoso e didático, ensinou a profissão de mecânico para muitos de seus sobrinhos, que se tornaram grandes profissionais.

Era alegre e humilde, vivia sorrindo rodeado de amigos. Quando chegava do trabalho nos finais de semana, tomava um banho e logo solicitava à mulher que pegasse seus cordões para começarem a dançar no forró. O casal dava um show onde quer que estivessem, especialmente ao som de Junior Viana e tudo se transformava em festa.

Além disso ele fez festa, quando a neta Nycole nasceu e quando soube que mais um bebê estava à caminho. João Batista era um avô e tanto. Todas as manhãs, deixava com Daiane uma tapioca feita pela esposa especialmente para a netinha, a quem João amava agradar. Outra era entregue à sua mãe, dona Osmarina.

Apaixonada pelo avô, Nycole queria estar constantemente com ele para compartilhar cada momento de sua jovem vida. Foi ela que, com uma sensibilidade que só as crianças têm, cravou que a mãe estava grávida de um menino que se chamaria João Neto, em homenagem ao vovô. E assim aconteceu. A notícia fez João Batista chorar de felicidade, fazer planos e esperar ansioso pelo grande momento. O pequeno João chegou após a partida do avô, trazendo a renovação da vida para a família.

A filha conta que o pai não gostava de tristeza e que talvez por isso tenha ido de forma rápida, deixando para a família a memória de um homem eternamente alegre e cheio de vida com muita saudade do "melhor pai e avô do mundo", como descreve Daiane.

João nasceu em Sobral (CE) e faleceu em Sobral (CE), aos 46 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos filhos de João, Robson de Sousa Nascimento e Daiane Sousa Nascimento. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Ana Macarini em 14 de fevereiro de 2022.