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João da Costa Coelho

1935 - 2021

Da vida, como se fosse o mar, não deixou histórias de pescador, e sim lições de como navegar.

Ele aprendeu desde cedo a lida: ainda menino, na madrugada escura, lá se ia o João e seus irmãos pegar os peixes; e quantos caíram na sua rede! O trabalho era duro, mas bem antes do sol pensar em se recolher o João estava de volta com seus irmãos na canoa, cheia de peixes e de lembranças do dia.

Tempos depois trocaria a vida de pescador para trabalhar no ramo madeireiro, na zona rural, e ao fim de um longo dia de trabalho ele voltava para os braços de dona Leonor, sua amada esposa.

Sua mesa era sempre farta e sua casa, parada obrigatória de muitos que precisavam de um prato de comida, antes de seguirem sua jornada — e eram sempre bem acolhidos pelo João, com o seu falar interiorano que tanto cativava as pessoas.

Na igreja, tinha participação ativa: foram anos de dedicação ajudando como diácono, abrindo a portas, recebendo os irmãos, levando o café da manhã na escola dominical e participando de tudo em que se fizesse necessária a sua presença: ele fez a obra de Deus conforme seu chamado.

A família era seu maior orgulho: estufava o peito para falar dos filhos, netos e genros, formados e bem encaminhados na vida: ele não cansava de exaltar o fato de ter tido a oportunidade de criar e formar seus filhos na capital Belém, segundo conta o genro João.

Mas, apesar de homem sério e de grandes responsabilidades, o João também era descontraído e divertido: amava pregar peças nos postulantes a genro dizendo: "eu não tenho mais forças nos braços, mas enquanto meus dedinhos puderem puxar um gatilho... fica esperto." Para logo em seguida sorrir diante das expressões de espanto dos candidatos.

O João fará muita falta a todos que tiveram a alegria de conviver com ele: “Nós, familiares, agradecemos ao senhor a oportunidade de ter tido um pai, um marido, um sogro, um tio, um servo, um irmão presente e atuante. Obrigado Deus! Vá em paz João Coelho.”

João nasceu em Oeiras do Pará (PA) e faleceu em Belém . (PA), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo genro de João, João Terra da Trindade Júnior. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Rosa Osana, revisado por Walker de Barros Dantas Paniágua e moderado por Rayane Urani em 12 de setembro de 2021.