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João Felisbino Rosa Filho

1945 - 2021

Ele sempre encontrava uma estratégia para dar suas escapadas e "tomar uma" com os amigos.

João era intensidade em cada gesto, em cada ato, enfim, em todo o seu viver. Talvez, por isso, ficou entre quem o amava a sensação de que partira “antes da hora”, sem tempo de terminar de escrever sua existência e com um pouco mais de vida colocar o ponto final. Entre o ponto de partida e a despedida foram 76 anos através dos quais ele construiu seus afetos, trilhou seu caminho profissional como delegado, encantou-se pela companheira, teve filhos, sobrinhos e netos; fez amigos.

Ao longo do caminho, no rosto que foi sendo marcado pelo passar do tempo, algo permaneceu. Nos lugares onde transitava, a marca de João era seu sorriso, que enfeitava sua fisionomia e os ambientes onde estava.

No mundo profissional, João tinha na delegacia um lugar de seriedade, ética e integridade. Ao mesmo tempo, a formalidade e os protocolos do lugar não impediam que ele conseguisse dar leveza a muitos momentos “com seu coração de criança”.

As pescarias certamente ecoam muitas entrelinhas. Inicialmente através das amizades que foram sendo costuradas e acabaram terminando no ato de pescar. O planejamento de cada uma juntamente com a turma da pescaria, certamente demandou muita conversa e parceria. Para pensar em tudo e não faltar nada durante um momento de descanso e relaxamento. Havia também o movimento de escolha conjunta do rio, a definição do melhor lugar para pescar. E ao final de tudo, num ponto da longa margem da água ou no pequeno espaço partilhado de um barco, lançar-se a um exercício de entrega total à espera de peixes. Depois de um dia de pesca, no escuro da noite, sob o céu de algum lugar, conversar sob a luz das estrelas.

As “escapadas para tomar uma” certamente também foram circunstâncias cheias de inventividade e estratégias. Além disso, momento de encontros, pois o ato de beber uma cerveja gelada sempre pede companhia de amigos. E enquanto isso, conversas, brincadeiras e risos.

No universo familiar, João sempre foi sinal de alegria e carinho. Do seu jeito, nos momentos em que se sentia inspirado, encontrava formas de demonstrar seus afetos e alegrias. O que não passava despercebido pelos que amou e que puderam compartilhar a existência com ele.

Nas palavras de Fernando, tecladas num movimento de busca de uma homenagem ao querido tio, acende-se um flash sob uma vida repleta de alegrias, dedicação e intensidade:

“Delegado aposentado, um chefe de família amoroso, pescador prestimiso, avô carinhoso.
Sempre presente com todos os familiares, sempre alegre, cheio de planos.
Partiu antes da hora, deixando um vazio no coração de todos os familiares
Fica na lembrança os bons momentos, as escapadas dele para 'tomar uma' escondido.
Seu sorriso é a sua marca registrada
Quanta falta você faz...”

João Felisbino segue vivo nos planos e sonhos que ficaram por acontecer. Que sabidos por Fernando e outros familiares, quem sabe, ainda possam virar realidade. E num possível acontecer, sejam movimento de reconhecimento, de demonstração de apreço, de valorização dos sonhos que ele sonhou. E que no lugar da sensação de vazio possam experimentar um pouco da alegria com a qual João viveu sua existência.

João nasceu em Mara Rosa (GO) e faleceu em Goiânia (GO), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho de João, Fernando Bitencourt da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ernesto Marques e Andressa Vieira, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 28 de maio de 2023.