João Ferreira Lima

1940 - 2020

Pacato, seu João da Bodega pouco usava a voz mansa; adornado pelo cigarro de palha, o sorriso era seu forte.

"Meu avô era a pessoa mais pacata que se possa imaginar", conta Cíntia antes de apresentar, de forma carinhosa, um pouco mais da história do avô: um homem que vivia em Juazeiro do Norte, com chapéu na cabeça, cigarrinho de palha na mão e sempre em pé defronte a sua bodega, proseando com os amigos.

Seu João foi um homem forte, com trajetória de vida tocante. Perdeu a mãe logo no parto e foi criado em meio às roças de feijão. "Nunca aprendeu as letras, mas fazia contas como ninguém! E possuía uma memória invejável", conta a neta Cíntia.

Era carinhoso e muito receptivo com aqueles a seu redor. Estava sempre disposto a ajudar. Um homem de poucas palavras, mas de coração imenso. "Se eu fechar os meus olhos, posso ver meu avô sentado na cadeira em frente à sua venda, fumando seu cigarro de palha com as pernas cruzadas e olhando firme pro horizonte", relata Cíntia.

João tinha bons vínculos com familiares, era honesto e discreto e, apesar de ter boas condições financeiras, vivia na simplicidade. Abominava a ganância – seu comércio era sua vida. De sua união de quase sessenta anos com Dona Socorro, teve 13 filhos, que contribuíram para deixar a família ainda maior, com 19 netos e 12 bisnetos.

"Meu avô era pura vitalidade e estava sempre rodeado de amigos e pessoas que o admiravam. Lembro-me dele em nosso último encontro... do seu abraço forte e daquele cheiro de perfume e cigarro de palha... Queria que ele fosse lembrado pela determinação. Apesar de não ter tido uma vida fácil, era um homem honrado e jamais desanimou diante das dificuldades. Lutou até o último dia de vida", conclui saudosa a neta.