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João Francisco de Melo

1942 - 2020

Gostava de contar piadas que não tinham a menor graça. E essa era a parte boa.

Pernambucano de nascimento, um fanático torcedor do Vasco. Fazia questão de defender a sua paixão e não admitia que falassem mal. Não perdia um jogo. Chamava todo mundo de vascaíno.

Tinha o apelido de Carioca por causa de seu sotaque marcante, que adquiriu depois de morar no Rio de Janeiro por mais de 30 anos.

Conversar com ele sobre futebol era garantia de assunto para muitas horas. Não perdia a oportunidade de zombar a neta Tatiane, que é corintiana, quando o time dela perdia.

Além disso, era apaixonado também pelo time paulista Santo André e pelo Sport Club do Recife.

Este era o Carioca, gostava de contar piadas, que a princípio não tinham a menor graça, mas com seu jeito único de contá-las era impossível ao ouvinte não dar risadas.

Sempre contava histórias, de sua infância, do período em que serviu o Exército ou de outros momentos marcantes de sua vida: “Ele me contava que quando pequeno dormia debaixo do estádio do Sport Club porque não tinha onde dormir”, disse sua neta Tatiane, a quem ele tinha como filha.

Sua fé em Deus era o seu maior sustento. Em todas as circunstâncias tinha um coração agradecido. Todos os dias, de joelhos no chão, clamava a Deus pela proteção de sua família e para que o ajudasse a vencer as batalhas da vida.

A neta, Tatiane, lembra com carinho da trajetória do avô e diz que, como no versículo bíblico: “Combateu o bom combate, completou a carreira, guardou a fé. A coroa da justiça lhe está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, lhe dará naquele dia; e não somente a ele, mas também a todos que amam a sua vinda”.

Sempre ativo, depois que se aposentou queria aproveitar o tempo. Pintar a casa, passear e jogar dominó na praça com os amigos eram algumas de suas atividades.

Cultivava momentos com a família, seja para um almoço ou churrasco. Amava as viagens para a praia. Na Copa de 2018, fez questão de comprar camisa do Brasil para todos, queria que estivessem uniformizados para vibrarem pela Seleção Brasileira.

Apaixonado pela família, viveu para ela. Vibrou de felicidade com o nascimento dos netos e do bisneto Bernardo. Seu sonho era que todos estivessem felizes, por isso não media esforços para vê-los bem.

O Carioca partiu e deixou esposa, seis filhas, seis netos e um bisneto. E em seus corações muitas saudades. João Francisco amava a vida. Sua marca era a alegria. Mostrava que, mesmo com as dificuldades, valia a pena viver.

João nasceu em Pernambuco e faleceu em Santo André (SP), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de João, Tatiane Henrique de Melo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Rocha, revisado por Monelise Vilela Pando e moderado por Rayane Urani em 28 de julho de 2020.