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João Joaquim da Mata

1937 - 2021

Fazia de sua benevolência e de seu altruísmo o sustentáculo de sua vida cristã.

Quando ele deixou a Ilha da Madeira, sua terra natal, para vir para o Brasil, mal sabia o que o esperava além das águas do Atlântico. Deixou familiares e memórias em terras lusitanas e aqui construiu grande parte de suas próprias memórias e histórias.

O pai de João, seu Manuel, já havia aportado em terras brasileiras dois anos antes da chegada do filho por aqui. O patriarca desbravou o desconhecido e abriu caminho para que parte da família pudesse novamente se reunir e construir uma nova história, mesmo que longe de suas origens.

João deixou para trás a terrinha aos 17 anos, e veio construir sua vida na pátria de adoção. O caminho foi sempre árduo e de muita luta e perseverança, mas João tinha algo a mais que o sustentava e o impulsionava: a fé. Foi sempre um homem temente a Deus.

Incansável, o trabalho para ele era uma forma de proporcionar aos seus uma vida plena, mas não com soberba ou ostentação. "Sua simplicidade não permitia tais futilidades", relembra a nora Sheila. "Se existiu alguém mais íntegro e honesto, com certeza ensinou a ele ou aprendeu com ele", afirma a nora.

João, era amor puro. Casou-se com dona Jô e juntos tiveram os filhos Paulo, Beto e Carlos Eduardo. Sua preocupação com o próximo era exercida não só no núcleo familiar, mas também se estendia aos parentes, aos amigos e aos desconhecidos, porque, para seu João, o importante era ser solícito e empático indistintamente.

Havia uma frase dita por ele sempre que alguém indagava se estava "tudo bem" ─ ele demonstrava o quanto era grato pela sua trajetória de vida respondendo: "Nada a reclamar, só a agradecer!"

Seus oito netos: Victor Hugo, Bruna, Isabella, Ana Luísa, Ana Clara, João Pedro, Dante e Valentina guardarão em suas memórias o amor de um avô que era presente, que era preocupado e que era sempre 100% entregue ao núcleo familiar.

Sua nora Sheila, a quem ele chamava carinhosamente de "primeirinha", foi acolhida por ele como uma filha e essa recíproca era tão verdadeira que a relação entre eles transbordava em afetividade mostrando que nem sempre os laços sanguíneos se sobrepõem ao amor verdadeiro.

Ele acordava cedinho, passava na padaria, comprava o pão fresquinho e deixava na casa de sua nora, só para que quando todos acordassem o pão já estivesse lá para o café da manhã. Esse pão representava ─ para ele e para quem o recebia ─ muito mais do que um alimento para a manutenção do corpo. Esse pão sempre alimentou a alma.

"Se alguém o convidasse para uma festa, nem sempre teria o prazer de sua presença, pois era mais reservado; mas se alguém estivesse precisando de uma ajuda, de um apoio ou estivesse em uma emergência, aí sim, ele era sempre o primeiro a chegar, sua compaixão era intrínseca a sua existência", conta Sheila.

O tempo não foi capaz de aplacar seu brilho e sua luz. No seu último ano de vida, já acometido pela demência senil e com suas limitações e restrições, ainda transmitia ensinamentos como "enquanto existe vida, existe alguém disposto a vivê-la com toda a sua intensidade e desafios".

"Ao ser internado para cuidados médicos, seu João foi contaminado pelo novo coronavírus. Seu corpo deixou o plano terreno, porém, sua alma jamais será esquecida e será sempre um espírito propagador de vibrações positivas para o Universo, que honrosamente tivemos o privilégio de compartilhar com ele", finaliza Sheila.

João nasceu na Ilha da Madeira (Portugal) e faleceu em São Paulo (SP), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela nora de João, Sheila Albuquerque Orlandino da Mata. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 17 de outubro de 2021.