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João José Andere

1942 - 2021

Sempre dava um jeitinho de fazer com que os familiares se lembrassem dele, não importava a ocasião.

Para Cristina, João José foi um mega pai, o melhor amigo, o grande amor e o maior confidente, que continuará sendo amado de janeiro a janeiro enfrentando.

Diálogos que seguirão eternizados para sempre na memória:

─ Paeeeeeee! Paiiiiiiiiiiiii!
─ O que você quer, Cristina?

─ Paieeeeee!
─ O quê, coisinha do pai?

─ Então, será que o senhor pode me ajudar?
─ Mas... de novo menina?

─ Paiê! Pai!
─ Mas, meu Deus! Tudo eu?

Como esquecer dele fazendo queixas a seu respeito para a esposa Miriam:

─ A Cristina veio aqui, né? Deixou o meu quarto e a sala uma bagunça!

─ A sua filha usou meu carro hoje, e a folgada mexeu no banco. Mas é abusada demais essa pequenininha!

─ Miriam, por que será que a coisinha do pai não apareceu hoje?

─ Miriam aquela maluca deve ter usado meu cartão. Ela é muito abusada. Ah, não faz mal! Olha só, usou para me trazer uma capa para o carro.

─ Como ela me enrola!

E arrematava dizendo:

─ Ela é pequena, mas é brava!

E assim era, todos os dias. Uma briga constante entre ele e a filha, mas que sempre acabava bem, porque eram parecidos em suas respostas rápidas e diretas.

Muito amoroso, João José parece que não queria ser esquecido e, tentando garantir que isso não acontecesse, fez recomendações dirigidas nominalmente aos familiares:

─ Filha, não deixa de falar de mim para a Antonella.

─ Fala para o Dante que eu o amei antes mesmo dele sorrir.

─ Não esquece de mandar meus netos usarem meu perfume para se lembrarem de mim.

Não faltaram também suas orientações (com pedidos aos netos) tentando garantir a harmonia familiar após sua partida:

─ Cuida de tudo. Obedeça seu irmão e não briga com ele, porque ele é bonzinho demais!

─ O Guilherme é irmão que o Kaique não teve e eles têm que ficar sempre juntos. Que me perdoem os outros netos, mais esses dois são uma comédia.

E, como não poderia deixar de ser, pedidos e agradecimentos especiais foram feitos a Cristina:

─ Obrigado, filha por ter me dado esse menino de ouro!

─ Fica perto da Natália, minha neta.

─ Promete cuidar da minha Deusa?

Cristina é um misto de gratidão e falta quando se recorda de João: "Ensinou-me a ser forte, valente, brava, engraçada, maluquinha, espevitada (como ele dizia), mas só não me ensinou ficar longe, não me ensinou dar adeus", mas, independentemente disso, a filha tem certeza que continuará caminhando o caminho ensinado por ele.

João nasceu em Ferraz de Vasconcelos (SP) e faleceu em Suzano (SP), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de João, Cristina Andere. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Vera Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 30 de junho de 2021.