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João Prado do Nascimento

1959 - 2020

Adorava ver a chuva e ouvir o som dela, e sempre dizia: "Sorria, você está sendo filmado".

Este é um tributo que Leticia escreveu para seu pai, João:

Era um homem que, em vez de palavras, usava atitudes para ensinar o que é responsabilidade, respeito, cuidado e amor.

Nasceu em uma pequena cidade do Acre, trabalhou em obras com seu pai e seguiu a vida atuando na mesma área. Saiu de sua cidade a trabalho, parou foi Roraima, criou cinco filhos com esforço e carinho.

Não era muito de falar "Eu te amo". Expressava seus sentimentos chegando do trabalho suado e, mesmo cansado, era uma bagunça e festa sua chegada.

Ter alguém como meu pai por perto, generoso, alegre, responsável e sonhador, era poder ter orgulho de dizer: "É meu pai, amigo, irmão e companheiro".

Momentos são muitos, e até o próprio silêncio me faz lembrar dele. Para ele não havia tempo ruim. Uma frase sua bem marcante, que sempre me vem à cabeça toda vez que estou triste, é: "Sorria, você está sendo filmada".

Era um homem de bom coração, ajudava no que podia.

Gostava de ser chamado de J.P. em todas as ligações que fazia.

Muito conhecido por seu trabalho, era engenhoso e fazia com bastante cuidado seus projetos.

Meu pai adorava a cor verde, tanto que comprou uma Pampa por causa disso.

Um de seus desejos era ajeitar uma van para trazer e levar pessoas de uma cidade a outra. Brincávamos com ele, dizendo que, por ser tão generoso de coração, se fizesse isso ele daria mais carona do que ganharia dinheiro.

Ele inventava de querer fazer tudo. Profissionalmente foi mestre de obras. Em casa, ele era tudo e brincávamos com ele por sempre inventar de aprender a fazer algo novo. A última coisa em que tentou se aperfeiçoar foi soldar.

Uma das melhores e mais engraçadas lembranças que tenho é de quando ele quis soldar uns ferros na madeira para cobrir a caixa-d'água, porém ele não esperava que no dia seguinte as soldas iriam se soltar ao poucos. Ele me chamou para perto, rindo, e me mostrou, falando que estava horrível.

Meu pai trabalhava sem parar, mesmo doente ; além disso, nada o impedia de completar qualquer serviço, mesmo que tivesse que improvisar.

Seu sorriso sempre será inesquecível, pois foi um grande homem e amigo de todos ao seu redor.

João nasceu em Tarauacá (AC) e faleceu em Boa Vista (RR), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de João, Leticia Fortes Prado. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Mateus Teixeira, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 19 de dezembro de 2020.