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Joaquim Batista de Souza

1926 - 2020

Cuidou da esposa quando ela teve Alzheimer e fez valer, por 68 anos, o juramento que fez no altar.

Nascido no interior da Bahia, atravessou as Minas Gerais até chegar em São Paulo. Quase dois mil quilômetros separam Entre Rios, sua cidade natal, da capital paulista, cidade em que fez morada.

Joaquim era boêmio e gostava muito de beber. O baiano conheceu a mineira Miltes Batista de Souza, que viria a ser sua esposa, em um trem em São Paulo. “Minha avó falava que ele entrou no trem atrás dela, eles estavam em sentidos contrários”, recorda a neta Vivian. Deste dia até o casamento, seis meses se passaram até o casal trocar as alianças. A capital paulista, da década de 50 não possuía muitos carros em suas avenidas, Joaquim e Miltes foram a pé para a igreja. Fato este que despertou a curiosidade dos vizinhos, que ficaram olhando os noivos saírem de casa. O casal teve sete filhos – Maria Conceição, José Geraldo, João Batista, Aparecida Conceição, Joaquim Reis, Luiz Carlos e Sonia; 18 netos e 15 bisnetos (nos quais Joaquim gostava de colocar apelidos).

Trabalhou como polidor e teve que se aposentar cedo por causa de um problema na coluna. “Meu avô não falava muito sobre a vida dele, quem contava as coisas mesmo era a vovó”, diz Vivian. Muito atencioso e prestativo, fazia tudo o que estava ao seu alcance para os netos, adorava cuidar deles. Quando o assunto era comida, adorava um churrasco, carne de panela e batata frita. Também gostavam da casa de cheia, de reunir a grande família em datas semanais e nos dias das mães e dos pais, faziam um café da tarde para celebrar, no melhor estilo da família Souza, essas datas especiais.

Ele cuidou da sua esposa quando ela começou a ter sinais de Alzheimer, junto com a filha Sonia, a quem ele chamava de "cricri", fazia isso com todo amor e zelo, jamais se queixou de dor. “Minha mãe, Sônia ajudava ele, quando iam aos médicos. Era ela quem levava e passou a ser a dama de companhia deles quando descobriram o Alzheimer na avó Miltes. Desde 2019 ela estava esquecendo com mais frequência das coisas, até mesmo da casa de praia”, recorda Vivian. Joaquim jamais esqueceu do seu amor pela querida esposa e fez valer, pelos 68 anos de união, o juramento que fez na igreja de “amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe". Miltes e Joaquim morreram no mesmo dia num intervalo de poucas horas de diferença, ambos vítimas da Covid-19. O sepultamento do casal foi junto, no mesmo jazigo, onde descansam unidos, iluminando e abençoando os familiares e amigos.

Para conhecer a história de Miltes Batista de Souza, acesse o tributo dela que também está aqui no Memorial Inumeráveis.

Joaquim nasceu em Entre Rios (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 93 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Joaquim, Vivian de Souza Lisboa. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mateus Teixeira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 8 de outubro de 2020.