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José Antônio Gouveia

1960 - 2020

Tinha o costume de chamar os netos para tomarem café juntos e sentarem-se na sacada para conversar.

Apelidado de Zé Gouveia, ele era um maquinista que trabalhava numa fábrica de macarrão até o ano de 2006, quando se aposentou.

Viveu com Neusa aquele tipo de casamento que faz jus ao dito popular, que afirma que os opostos se atraem. Ela sempre muito engraçada e faladeira, ele muito reservado, chegava a ficar envergonhado quando ouvia as asneiras que ela dizia. Contudo isso não impediu que ficassem juntos por trinta e seis lindos anos. Conheceram-se quando ela tinha apenas 18 e ele 22 anos, eram vizinhos muito próximos, daí para frente passaram a vida grudados. Todos os anos passavam um mês em viagem para a Bahia, onde moravam os parentes de Neusa e, uma vez lá, se empanturravam das comidas gostosas daquela terra.

Formaram uma grande família composta de cinco filhos biológicos - Felipe, Daniel, Lucas, Cintia e Kátia - e vários outros acolhidos pelo coração, como as afilhadas Sabrina e Mayara das quais cuidou como filhas até os 20 anos. A casa sempre estava cheia de gente, porque ele amava estar com a família e principalmente brincar com as crianças. Fazia tudo pelos filhos! Gostavam de assistir a filmes de ação, novelas e aos sábados à noite sempre se juntavam para comer uma boa pizza.

Kátia, uma das filhas conta, saudosamente: "Ele mimou todos os netos o máximo que pode, sempre pedia que dessem beijos e abraços no vovô. Comprava frutas e cortava sempre que pediam. Todos eram torcedores do Corinthians e brincavam com o avô falando que ele ainda viraria corintiano por conta dos netos. Hoje dizem que respeitam o Santos pelo amor do avô pelo Time e sentem falta das brincadeiras".

Ele era capaz de eternizar momentos simples como esse que ela relembra: "Quando eu era criança, nós fomos a missa juntos e no caminho de volta, passamos em uma lanchonete tomamos açaí, quando ele falou para não contar para ninguém, que isso era o nosso segredo, mas ele acabou derrubando açaí na roupa dele e isso nos entregou".

Ela conta que em casa, ele tinha mania de organização: "acordava cedo, lavava a louça e arrumava a cozinha sempre ouvindo a palestra da Canção Nova, era regra! Antes de lavar a louça, organizava a pia. Após limpar tudo, deixava um paninho em cima. Arrumava os copos e dizia que para que ficassem organizados tinham que estar em uma quantidade “X”. Então sempre sabia quando estava faltando um copo e saia pela casa procurando o faltoso. Quando acabava de arrumá-la, fazia um café e levava na cama para sua esposa querida."

As horas livres ele dividia entre as coisas que gostava: passar o tempo rezando na sacada de sua casa, brincar com os netos Ana Clara, Gabriela, Gustavo, Heloísa e as gêmeas Eduarda e Helena que variavam sua idade entre 13 e três anos. Também assistia esportes, principalmente jogos de futebol.

Como um bom torcedor do Santos não perdia um jogo sequer e gostava de brincar com Kátia por ela ser torcedora do Corinthians. Ela conta que a última coisa que fizeram juntos foi assistir a um jogo do Corinthians pela televisão e depois um do Santos. A pipoca aos domingos para assistir aos jogos era indispensável.

Zé Gouveia não era um homem de brigas, pelo contrário, as evitava ao máximo. Tinha muita paciência, carisma e vivia como um homem rico de virtudes: bondoso, honesto, amigo, respeitoso e de fácil perdão. Como cristão, amava a igreja e serviu ao altar do Senhor durante anos. Foi ministro da eucaristia, realizou novenas e celebrações. Participava de todas as missas e levava a eucaristia àqueles que não podiam ir até a igreja e tornando-se, por toda essa participação, muito querido na comunidade por todos.

José nasceu em São José dos Campos (SP) e faleceu em São José dos Campos (SP), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Kátia dos Santos Gouveia. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Vera Dias, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 28 de novembro de 2021.