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José Archimedes Pedroso Meloni

1955 - 2020

A primeira Unidade Básica de Saúde do SUS, no bairro Jardim Bassoli, em Campinas, leva o nome do doutor Meloni.

Dr. Meloni, como era chamado por todos, conheceu Marta, o amor de sua vida, quando ambos eram adolescentes. Foi cativado ao primeiro olhar, pelo seu belo par de olhos verdes e por seu cabelo comprido, loiro acinzentado. O encontro ocorreu quando foi tocar violão no salão da Igreja Sagrado Coração de Jesus, numa festinha em homenagem às mães. Foi amor à primeira vista.

Namoro típico dos anos 70, sério, alicerçado em muitas conversas e na amizade respeitosa. Juntos, foram descobrindo o mundo e conhecendo-se um ao outro, num tempo que foi para eles muito marcante e deixou importantes e boas recordações.

Em 1972, o estudante José Archimedes Pedroso Meloni ingressou no curso de Medicina da UNESP de Botucatu, interior do estado de São Paulo. Apesar da distância, sempre voltava para Campinas para visitar Marta; jamais deixou de encontrá-la de vê-la aos finais de semana.

Marta, por sua vez, queria ser professora, e estudava no Instituto de Educação, perseguindo seus objetivos, enquanto curtia o período de namoro. O romance se manteve por onze anos, antes da celebração de um casamento que seguiu por mais quarenta e oito anos, e que lhes trouxe de presente as filhas Danielle, Michelle e Isabelle.

As três filhas optaram por seguir a carreira médica do pai, que era clínico geral e ortopedista. Danielle, ortopedista, trabalhava com ele na clínica. Já Michelle, radiologista, trabalha em São Paulo, embora isso nunca tenha sido impedimento para estarem juntos sempre quando tinha uma oportunidade. E Isabelle, também radiologista, trabalhava com o pai no UPA de Campo Grande e em outros serviços da área.

Dr. Meloni tornou-se avô de Gabrielle e Giselle com as quais amava brincar. Pacientemente, as colocava sobre um lençol de malha velha no chão e ficava puxando como se fosse um trenzinho, era brincadeira que elas amavam e ficavam sempre pedindo mais.

Ele conseguiu conciliar sua intensa vida profissional com a vida pessoal. Muito ligado à família, viajava com frequência para conhecerem outros lugares e países, um hábito que permaneceu mesmo quando as filhas começaram a namorar ou mesmo após se casaram.

Faziam viagens memoráveis, a última foi um verdadeiro sonho realizado: estiveram no Canadá, quando visitaram Vancouver, Toronto e Seattle, de trem. Depois, ainda em 2020, viajaram pelo Brasil, foram para Riviera de São Lourenço, Santos e Campos do Jordão, sempre curtindo o companheirismo, que renascia e se fortalecia na convivência.

A esposa, relembra esse tempo como muito especial: “Estávamos em nossa melhor fase, com nossas filhas, genros e netas, viajando e conhecendo lugares que sempre sonhamos, íamos a eventos culturais que adorávamos como shows, cinema e teatro”.

Dr. Meloni, nutria pela profissão um amor similar ao que dirigia à família conforme nos conta Marta: “José adorava reunir a família, assim como amava sua profissão e dedicou sua vida a atendimentos clínico e urgências. Esse amor à Medicina ele passou para as filhas, incentivando-as e dizendo sempre: “Se vocês não sabem o que fazer, façam Medicina porque pelo menos posso ajudar a encaminhar vocês nesse segmento de trabalho”.

Ele graduou-se pela UNESP, em 1979 e iniciou sua carreira no Pronto Atendimento Sérgio Arouque em 2014. Foi um médico dedicado e simpático; cativava os pacientes e colegas de trabalho. Na profissão, não perdeu oportunidade de demonstrar coragem, nobreza de espírito, humildade e os valores humanos que defendia. Ele honrou seu juramento profissional ao manter sua atuação na linha de frente mesmo diante dos riscos trazidos pela epidemia.

Suas qualidades não passaram despercebidas e foram todas ressaltadas pelo prefeito de Campinas que o homenageou dando seu nome ao Centro de Saúde Jardim Barsoli que passou a se chamar de Dr. José Archimedes Pedroso Meloni. Na ocasião proferiu as seguintes palavras: "Esse ato foi um reconhecimento merecido a um homem que sempre se dedicou a ajudar o próximo, considerando que seu exemplo e sua alegria em ajudar as pessoas serão sempre lembrados".

Amante do esporte, Dr. Meloni fez parte da diretoria da Ponte Preta, o time do seu coração e que ele tanto amava. Nele trabalhou como diretor médico do time e se fez muito querido pelos funcionários, pela equipe de atletas e até pela torcida. Era bem conhecido em toda a cidade de Campinas por sua dedicação ao trabalho o que, segundo Marta, lhe garantiu muitas homenagens póstumas: “Inclusive, no dia do médico, fizeram uma homenagem colocando as fotos de todos os médicos que enviaram sua história ao CRM. Foi feito um culto ecumênico, e memorial em homenagem àqueles que morreram por Covid-19”.

Ele era muito querido também entre seus pacientes e sua morte gerou uma grande comoção manifestada nas redes sociais. Ficaram uma grande saudade, seu exemplo de vida laboral aos colegas de profissão e um lindo legado deixado às filhas e à família.

José nasceu em Araras (SP) e faleceu em Campinas (SP), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de José, Marta Marostegan Meloni. Este tributo foi apurado por Sonia Ferreira, editado por Vera Dias, revisado por Francisco C. de Morais e Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 6 de outubro de 2021.