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José Avelino de Souza

1950 - 2021

Um avô devotado e ciumento que amava mimar os netos com atenção e presentes caprichados.

Era conhecido pelo apelido de Zé Lino. Quando novo, tinha cabelos cheios. Sua maior tristeza foi quando ficou careca, com a queda de cabelo após os 20 anos. A honestidade de José Avelino era incomparável, cuidava do que pertencia ao outro como se fosse dele. Todos queriam contratá-lo, pois sabiam que sempre cuidaria bem das coisas e poderiam contar com sua honestidade.

Foi casado por quarenta e nove anos, tinha três filhas que eram muito apegadas a ele. Ele as levava para passear, faziam piqueniques à beira da represa e gostavam de ir à praia juntos. Tinham o hábito de almoçar juntos aos domingos. As filhas se recordam do sítio do pai, onde ele chamava as vacas e tirava leite, o que era também uma alegria para os netos. Sempre foi um pai muito presente. Sua filha Edimilda que teve bronquite até os sete anos de idade lembra com carinho dos cuidados do pai, visitando-a e levando comida para ela durante o período em que ficava hospitalizada.

Foi o avô dedicado dos netos Aline, Vitória, Gabriel Avelino, Maria Fernanda e Miguel. Gabriel Avelino era seu orgulho, por carregar o seu nome como homenagem. Tinha o costume de dar presentes em todos os aniversários. Sempre muito solidário, fazendo as vontades dos netos. Dava dinheiro ao Gabriel, seu neto de 17 anos, para ir ao cinema. Miguel, o caçula de sete anos, era sempre atendido quando chamava pelo avô, sem importar o motivo. A neta mais velha, Aline de 25 anos, sempre foi seu xodó e motivo de o avô ser babão. Nas gravações em fitas, era possível ver filmagens de Zé Lino pedindo para a neta dar uma piscadinha; ele só se contentava quando ela respondia. Brigava com Maria Fernanda pois dizia que ela falava muito rápido e alto. Enciumado, não facilitava a vida dos pretendentes de Aline. Vivia sempre querendo saber para onde a neta estava indo. Uma preocupação enorme!

Era caseiro e, quando estava em casa gostava de assistir a programas de esporte e jornal; o mais apreciava mesmo era conversar com os amigos. Ele saía de casa para fazer caminhada e ia até o ponto de táxi para conversar. Durante a caminhada também fazia uma pausa no posto de gasolina em que tinha amizade com os frentistas e proseava com eles. Gostava muito de jogar cartas, principalmente truco! Jogava muito dominó também, e nem via o tempo passar... Jogava com os amigos, primos, o namorado de sua neta, com qualquer pessoa que topasse. Além de jogador era um apreciador de música sertaneja, gostava de ficar dentro do carro ouvindo suas músicas. Como não estava ouvindo bem, devido a problema na audição, entrava no carro para abafar o som externo e ouvia suas músicas lá dentro; quando estivesse em casa escutava-as usando fones de ouvido. Era apaixonado por músicas sertanejas antigas: Trio Parada Dura, Tonico e Tinoco, Daniel, Sérgio Reis, Zezé de Camargo e Luciano.

Trabalhou na Volkswagen de São Bernardo do Campo e aposentou-se muito jovem, aos 46 anos. Acabou por arrumar outra profissão: taxista, que exerceu até 2019, quando a piora do problema de audição o fez resolver parar. A partir daí a vida era organizada para fazer caminhadas, acompanhar a esposa ao mercado, dormir, ouvir música, dizer que estava com fome e mexer na panela. Sempre que a esposa estava fazendo comida, tinha que pegar um pedacinho antes de estar pronta para provar. Quem fazia seu café era sempre sua esposa. O café que somente ele gostava: bem ralo e doce. Ficava sentado, passava a mão na barriga e perguntava à esposa, enquanto balançava a garrafa de café: "Cadê meu café? Não tem café não?". Resta agora a saudade desse avô coruja que deixou um vazio no sofá da sala e no coração de todos que o amam.

José nasceu em Governador Valadares (MG) e faleceu em São Bernardo do Campo (SP), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Edimilda Avelina de Sousa. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Ana Clara Cavalcante, revisado por W. Barros Dantas Paniágua e moderado por Ana Macarini em 27 de agosto de 2021.