Sobre o Inumeráveis

José Caetano Bitencourt

1952 - 2020

Ele era a alegria das festas, com sua “chuva” de bombons.

Brindar a vida e presentear as crianças com alegria foi uma das maneiras encontrou para compensar a infância difícil vivida na sua querida Pancas, interior do Espírito Santo. Nascido em uma família com poucos recursos financeiros e tendo 11 irmãos, ainda pequeno precisou trabalhar retirando areia de um córrego para vender e ajudar nas despesas da casa.

Com o sonho de “vencer na vida”, conforme ele mesmo dizia, mudou-se para Belo Horizonte. Na capital mineira, trabalhou na Polícia Militar durante três anos e depois de uma experiência exitosa durante as férias, como corretor de imóveis — em parceria com o cunhado Gelson —, pediu baixa da PM e continuou com a nova profissão. “Os negócios deram muito certo”, afirma a sobrinha. “Ele se esforçou muito, acordava cedinho para trabalhar, sempre animado e sorrindo. Mesmo com seus 68 anos, não deixava de trabalhar no seu escritório”, complementa.

E foi assim que, junto com sua “gatinha” — como ele chamava a esposa Ana Rita — José Caetano lutou para realizar o sonho de ver os três filhos formados: Xênia, Carlos Javet e Paulo Jesse, dois médicos e um advogado.

A sobrinha conta que o tio amava e admirava muito a esposa, por quem era apaixonado e encantado há quarenta e dois anos. “Era um casal dos mais unidos que pode existir”.

Quando ele chegava nas festas, a farra era certa! Tinha a tradicional e divertida brincadeira com os chocolates, brincava com mangueira de água, molhando os pequenos. “Assim eram os encontros com Tio Zé, uma verdadeira alegria! Essa era sua marca registrada: levar muitas caixas de bombons, que jogava para o alto para todos correrem e pegarem. Era uma festa!”, lembra a sobrinha Kerley.

Além dos três filhos, José Caetano e Ana Rita tiveram cinco netos. Diferente do pai rígido, apesar de amoroso, Kerley conta que José Caetano foi um avô carinhoso e bondoso, que amava presentear os netos.

A filha Xênia conta que José Caetano amava a família e era um avô afetuoso o tempo todo. Ela se recorda do pai expondo com frequência sua fé cristã: "Creiam em Deus"; “Sem Jesus, não somos nada, não podemos nada!”, ele dizia.

Católico, frequentador assíduo da Paróquia Cristo Redentor, na Comunidade Santa Cruz, José Caetano ajudou na construção da igreja, confirmando ser um ótimo administrador. "Ele era um fiel devoto dos ensinamentos de Jesus, ocupou-se do próximo durante toda a vida, com especial cuidado para os excluídos da sociedade”, lembra a filha.

"Antes de adoecer", conta Xênia, "meu pai distribuiu máscaras nas ruas, alertando a população sobre a necessidade de se proteger. Ele foi um homem de fé, um guerreiro, até seu último momento", conclui.

Um contador de histórias, que também gostava de ouvir. Além de contar as aventuras e dificuldades enfrentadas em sua terra natal, José Caetano gostava de ouvir as músicas cantadas por Paula Fernandes, Leonardo, Eduardo Costa e Roberto Carlos.

A sobrinha Alexandra sabe que o céu está em festa, recebendo os doces do tio Zé, em companhia dos anjos. Aqui na Terra, ela repete: “E agora, José?”

Agora fica a saudade, agora fica o legado de honestidade, empenho e disciplina, que será lembrado e seguido pela família. Agora fica a gratidão a alguém que plantou a semente da vida e que constituiu, com Ana Rita, uma linda família. Agora fica o amor.

“Nunca se esqueça, nem um segundo
Que eu tenho o amor maior do mundo
Como é grande o meu amor por você”. (Roberto Carlos)

José nasceu em Pancas (ES) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha e pelas sobrinhas de José, Xenia, Kerley e Alexandra. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Denise Stefanoni, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 6 de fevereiro de 2022.