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José Cosme dos Santos Costa

1960 - 2020

Devoto de Santa Dulce dos Pobres e de coração acolhedor, era fã de Chiclete com Banana e não perdia um carnaval.

E era atrás do trio elétrico que a felicidade de José Cosme era completa. Apaixonado por carnaval e fã de Chiclete com Banana, o baiano não perdia um dia sequer da festa do Momo. Religiosamente, também frequentava a Igreja do Senhor do Bonfim, onde rezava o terço às 18h, e nas preces rogava à santa de devoção: a Santa Dulce dos Pobres.

Cosme, como era chamado pelos familiares, amava e se orgulhava das irmãs. A formatura delas na faculdade e o fato de serem educadoras eram motivos de alegria e realização para ele. Era muito apaixonado por sua esposa Cassilda, que conheceu durante um carnaval e é a prova concreta que "amor de carnaval" dura e por muitos anos.

Vivia intensamente o carnaval de Salvador. Passava o ano relembrando as antigas folias e se preparando para a próxima. Na sala de casa, aprendia as danças e coreografias e economizava dinheiro para comprar seu abadá, sendo, o seu preferido o bloco Alerta Geral. Era um chicleteiro de carteirinha. Acompanhava Bel Marques na pipoca e, mesmo tendo que passar por sessões de hemodiálise, não deixava de aproveitar a festa.

A fé e a religiosidade também estavam presentes no dia a dia de Cosme. Diariamente, rezava o terço na Igreja do Senhor do Bonfim e, na primeira e última sexta-feira do mês, frequentava o Santuário da Irmã Dulce. As visitas à igreja eram registradas em fotos e enviadas ao grupo de família. Não perdia a festa de Santa Bárbara, a lavagem do Senhor do Bonfim e, na última sexta-feira do ano, estava na Colina Sagrada.

Como já estava aposentado, aproveitava o tempo livre para auxiliar os familiares. Conhecia cada igreja, cada rua, cada canto de Salvador. Era considerado o guia dos familiares que vinham do interior para passear pela capital. Assim, adorava recebê-los em casa. Era ele quem organizava a residência, preparava as refeições e ficava preocupado quando os convidados demoravam a chegar. Não tinha tempo ruim quando assunto era defender, cuidar, elogiar os seus, fazia cada um se sentir muito especial e amado.

Depois de um incidente de trabalho, ficou com a saúde debilitada e precisou se aposentar. Fazia hemodiálise três vezes por semana e, ao fim de cada sessão, estava renovado. Cosme se inscreveu para fazer um transplante de rim. Certo dia, recebeu a esperada ligação de que haviam encontrado um doador. O transplante trouxe um novo fôlego, porém pouco tempo depois, houve rejeição e ele precisou voltar a fazer hemodiálise. Cosme não desistiu, e se inscreveu para um novo transplante e aguardava confiante.

Sonhava em ganhar na loteria para realizar o sonho da casa própria para os irmãos e sobrinhos. A ideia era construir um condomínio para morar com os familiares. No dia 13 de agosto, dia de Santa Dulce dos Pobres, se juntou a sua santa de devoção no Céu. Para quem ficou na Terra, a recordação da música de Bel Marques que Cosme gostava: "Todo mistério da vida / Pra quê / De onde vem essa força / Por quê / Se o importante é viver".

José nasceu em Salvador (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo tio de José, Tayane Costa Morais. Este texto foi apurado e escrito por Gabriel Rodrigues, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de novembro de 2020.