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José Ferreira de Sousa

1951 - 2020

Dedé, que era habilidoso no dominó, também jogava no bicho e apostava na quina.

Ele tinha tanta esperança de voltar para casa que pediu que conferissem o jogo da quina ao ir para o hospital.

Trabalhou como chapeiro em uma lanchonete até ficar doente. Preferia ser honesto do que, nas palavras dele, fazer o errado e virar um rato de esgoto.

Casado com Rosa e pai de Edna e Edileusa, foi na festa da neta Márcia em que aproveitou a própria vida. Há anos a família não comemorava aniversários, mas aquele dia foi especial. Todo mundo se juntou. Passava da meia-noite e ninguém lembrava nem de cortar o bolo, tamanha a diversão. Era festa de criança e festa de adultos. Dedé do Dominó, que não bebia, tomou algumas cervejas e se divertiu como nunca.

Nordestino, estava em São Paulo para trabalhar. Durante a vida inteira, trabalhou. Soube se divertir no tempo livre que tinha. Quando sentiu-se mal, estava com medo. Talvez não voltasse, ele pensava.

Para não perder o costume, entretanto, disse à família, como se soprasse o desejo de voltar: “Por favor, confiram o jogo da quina para mim”.

José nasceu Tauá (CE) e faleceu São Paulo (SP), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Jornalista desta história Josué Seixas, em entrevista feita com filha Edna Sousa, em 23 de maio de 2020.