1943 - 2020
Seu passatempo favorito eram as partidas de buraco, mesmo perdendo ele não saía da mesa.
José era um homem emotivo, desses que não tem vergonha mesmo de chorar. Nascido no interior do Espírito Santo, foi o segundo filho de sete. Perdeu a visão de um olho ainda menino, mas só se deu conta ao se apresentar no quartel. Mudou-se para o Rio de Janeiro acompanhando os pais.
Sempre se doou muito ao trabalho. Criou seus filhos trabalhando como cobrador, fiscal e despachante de algumas empresas. Perto de se aposentar, trabalhou como gari pela Prefeitura de Belford Roxo. Era chefe de equipe e todos seus funcionários gostavam muito dele, tinha muitos amigos e sempre os levava em sua casa para almoçar.
Foi casado com Maria Auxiliadora, com quem teve quatro filhos: Kátia, Marcelo, Adriana e Mariana. "Meu pai era um paizão. Quando minha irmã se casou, ele ficou com tanta saudade que chorava ao lembrar dela e de meu cunhado sentados no sofá." Relembra a filha Mariana.
Era o porto seguro de toda a família, dedicava seu tempo com muito carinho para cuidar de sua esposa com Alzheimer e encontrava nos sete netos a sua maior alegria, fazendo de tudo para os agradar. Amava viver e mesmo passando por dificuldades financeiras, sempre dava um jeitinho de dançar um forró. José tinha o Flamengo como seu time do coração, e colecionou alegrias no último ano ao vê-lo conquistar os títulos.
Sempre dizia aos familiares e amigos próximos que era necessário viver cada dia como se fosse o último. Sua comida predileta era a canjiquinha da vovó. Gostava de jogar buraco e amava as músicas de Milionário e José Rico, suas favoritas eram "Dama da noite" e "Estrada da vida".
Sonhava em ganhar um prêmio bom, fosse na loteria ou no bicho, para dividir entre os filhos. "Ele cuidava de nós como ninguém. Tirava a roupa do próprio corpo para dar aos outros. Um dia uma vizinha o chamou às 2h da madrugada em nosso portão, pois estava prestes a dar a luz e sua bolsa tinha estourado. Saiu pela rua em busca de um carro para levá-la ao hospital." Relembra a filha.
Os netos escreveram cartinhas para o vovô José: Gustavo dizia que era para ele voltar logo para ganhá-lo no buraco; Maísa dizia que o amava e contava o resultado da última vitória do Flamengo; Maria Flor desenhou o vovô levando as crianças para comprar doces; Júlia dizia que o amava; Gabriel fez um desenho na carta da irmã; Rafael e Pedro ainda eram muito pequenos e não sabiam escrever ou desenhar, mas certamente conhecerão por meio das lembranças familiares o extraordinário avô que tiveram.
José nasceu em São José do Calçado (ES) e faleceu em Belford Roxo (RJ), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de José, Mariana Moraes Rodrigues. Este tributo foi apurado por Karina Zeferino, editado por Mariana Nunes, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 13 de outubro de 2021.