Sobre o Inumeráveis

José Geraldo Casalli Cruz de Oliveira

1965 - 2020

Romântico à moda antiga e o maior incentivador da família.

José foi o fã número um daqueles que amava. Acompanhava filhos e netos em tudo que precisassem, estava sempre pronto para ajudar. Foi um pai presente no dia a dia, incentivava nos estudos, participava de reuniões escolares, acompanhava na prática de esportes e também nos passeios pela cidade. Incentivou a neta Aliel, que é o nome da sua amada ao contrário, a lançar o seu primeiro livro de poemas: "Florescer das reflexões". Cuidava do cunhado PcD (Pessoa com Deficiência) com tanto amor, que o carregava no colo quando era preciso. Grande marido, amigo e companheiro, sua esposa Leila sempre pôde contar e se apoiar em José Geraldo.

Como de costume, com amor e atenção, José acompanhava Leila ao trabalho e a buscava à tardinha. Os cuidados dele se estenderam por toda a vida. Como quando Leila passou por um momento de superação, ao ser vitimada pelo câncer. José a acompanhou em todas as consultas e não deixou que ela esquecesse de tomar nenhum medicamento.

José Geraldo foi daqueles amigos que antes de ir ao trabalho enviava mensagens com textos de otimismo e não dormia antes de enviar um singelo boa noite, tanto para os amigos como para os familiares. Leila, saudosamente, relata: “Às vezes, me pego olhando para o celular na espera de um eu te amo”.

Casados desde de 1983, o amor foi presente na vida desse casal todos os dias. “O eu te amo foram as últimas palavras que trocamos antes dele ir para a CTI”. Saudosa, Leila se recorda da poesia apreciada pelo esposo, em especial deste poema de autor desconhecido que retrata a história que viveram:

"Ele vinha, ela ia. Eram opostos que se esbarraram na estrada da vida, e sonharam, planejaram. Ela buscava sempre de forma fria ser realista, e ele lindamente sonhava. Eram bons um com o outro, e sabiam andar de mãos dadas, mesmo que os caminhos nem sempre fossem os mesmos. Ele calmaria, ela furacão. Louca, paciente. Ela era noite, ele dia. Eram sorrisos, noites sem fim, depois calmaria. Eram danças e deitar na grama, sorvete e azul do céu. Ela sempre amarga, ele mel. Ele beijo molhado, ela abraço apertado, ela escandalosa ele calado. Eram amigos e confidente, mas nem sempre viviam contentes. Tinham problemas, mas quem não tem, até que num desses chega o desdém. Ela vinha, ele ia. Não mais juntos, porém mais unidos. Eram cúmplices e muito amigos. Existia amor.”

Leila também relembra amorosamente do poema escrito pelo esposo quando eles se conheceram: “Você garota surpresa, você garota beleza, você garota de um porre, você garota que corre, corre para viver, viver e sofrer. Eu quero você!”

"E por anos tiveram outros... bilhetes pela casa em dia de aniversário! Cada porta tinha um bilhete diferente.” conta Leila.

O casal viveu momentos que ficaram guardados na memória da esposa. "Eu não ia à loja para comprar bolsas, sapatos, roupas... ele comprava tudo pra mim. Ia ao mercado, farmácia. Me ajudava em casa, na cozinha, na roupa. Não ia a lugares que eu não gostava, mas sabia onde me levar pra almoçar ou jantar. Sempre tinha um churrasquinho também, com a família e amigos."

Outra coisa que o casal amava fazer juntos era assistir a séries "Com pipoca e guaraná pra acompanhar, ou um bom vinho com aquele queijinho", relembra Leila. José amava as séries de super heróis e sempre dava "spoiler" para a filha. "Às vezes no meio do dia ele ligava pra ela só para contar o que ia acontecer, era muito engraçado", relembra Leila.

José trabalhava com tecnologia, seu outro amor. Estava sempre acompanhando os lançamentos e tinha prazer em montar, desmontar, formatar e instalar coisas. Fazia isso com muito gosto.

José Geraldo foi exemplo de amor e respeito. A dedicação à família foi a maior lição que ele deixou.

-

Para Fernanda, José Geraldo era mais que um pai. Era seu melhor amigo.

"Vivíamos parados, horas e horas, em frente ao portão de casa conversando. Nem percebíamos o tempo passar. O assunto era sempre interessante e divertido”, conta ela, que é mãe de Aliel e Sabrina, as netas que eram o maior xodó de José Geraldo.

A cumplicidade entre pai e filha era marcante. "Sempre me ligava, no meio do meu turno de trabalho para me contar 'spoiler' das séries que assistíamos, e só desligava quando falasse tudo que queria.”

José Geraldo teve dois filhos. Além de Fernanda, teve Caio, dezoito anos mais novo que ela. A filha relembra com carinho a enorme proximidade que tinha com o pai: “Quando eu tinha 3 anos, esperava sempre ele chegar em casa após o trabalho. E, quando sabia que já estava chegando dava um grito: 'O Dé tá chegando', corria para me esconder e lhe dava um susto. Era muito legal”.

Já durante a adolescência, conta Fernanda, as discussões entre os dois foram inevitáveis, principalmente pelo fato de eles serem tão parecidos. Mas, com o passar do tempo e a maturidade, todos os conflitos se consolidaram numa relação de parceria.

"Tudo eu corria para contar para ele. Como sou editora de vídeo, antes de entregar um trabalho, mandava para ele ver primeiro, e as críticas que fazia sempre deixavam o resultado final melhor."

Fernanda lembra saudosa das predileções do pai. “Gostava de cerveja, mas com moderação, e tinha um carinho especial por suas taças. Dizia que, se quebrasse uma, estaria devendo a ele uma dúzia. Sempre tinha frases assim na ponta da língua e conselhos para qualquer momento.”

“Só não gostava de uma coisa: ser interrompido quando estava assistindo à Fórmula 1 ou o programa The Voice Kids", conta ela.

Todos tinham muito carinho por José Geraldo, já que ele estava sempre pensando nos outros. Era técnico e por isso muito procurado para resolver problemas, e costumava trabalhar sem cobrar, porque o que gostava mesmo era de ajudar as pessoas. Será lembrado por sua compreensão, generosidade e lealdade.

José nasceu em Barra do Piraí (RJ) e faleceu em Nova Friburgo (RJ), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa e pela filha de José, Leila de Castro Casalli e Fernanda de Castro Casalli. Este tributo foi apurado por Malu Marinho e Andressa Vieira, editado por Thalita Ferreira Campos e Vera Dias, revisado por Ana Macarini e Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 20 de agosto de 2021.