1965 - 2020
No fim do dia ele esperava a esposa chegar do trabalho com um café fresquinho, passado na hora.
"Bom dia, meu amor, tudo bem com você? Estou morrendo de saudade. Não vejo a hora de chegar aí e te abraçar, conversar com você...", assim costumavam ser os áudios enviados por José Geraldo para a esposa Lucia. Foram trinta anos de dedicação, carinho e preocupação mútuos. "Ele sempre falava que começou a namorar minha mãe para ser uma aventura, mas que se apaixonou", conta a filha Jéssica.
José Geraldo trabalhou por muitos anos no setor de manutenção de empresas e havia se aposentado em 2018, assumindo então a posição de dono de casa. Cuidava de tudo enquanto a esposa e os filhos Jéssica e Jefferson saíam para trabalhar: comida, limpeza, organização e, acima de tudo, os netinhos. Ao chegar em casa, Lucia tinha sempre o prazer de contar com a companhia do maridão para tomar um cafezinho que ele havia acabado de passar. A marmita também já estava preparada para o dia seguinte e, sendo assim, não restavam mais preocupações e afazeres, pois ele fazia questão de deixar tudo pronto e organizado para, se possível, passar a madrugada toda conversando com a esposa, que não raras vezes dormia apenas poucas horas, mas também amava essa rotina. Faziam tudo juntos.
Uma de suas maiores diversões era quando fazia churrascos em casa com a família. Passava o dia ouvindo música e conversando numa alegria só. "Sempre atento e generoso. O que mais vem ao meu coração ao falar de meu pai é sua bondade", afirma a filha.
Para finalizar a homenagem ao pai, Jéssica relembra um episódio marcante: a última virada do ano. "As irmãs e cunhados da minha mãe estavam em casa, mais o meu pai, eu, meu esposo, filhos, minha mãe e meu irmão. Meu pai fez um discurso de como a vida era passageira e falou o quanto amava o fato de estarmos juntos. Ficamos acordados até às 5h da manhã, inclusive as crianças. Foi memorável... maravilhoso... e representou sua essência de toda uma vida: viver bem no amor e no diálogo".
A mãe, por quem José era apaixonado, e mais dois irmãos dele também foram vítimas da Covid-19. Para conhecer as histórias deles procure no Memorial por Maria da Conceição de Jesus, Evanir de Souza e Geralda Maria Aparecida Souza Santos.
José nasceu em São José do Goiabal (MG) e faleceu em Contagem (MG), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de José, Jéssica Aparecida de Souza Guimarães. Este tributo foi apurado por Katarini Miguel, editado por Lígia Franzin, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 7 de dezembro de 2021.