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José Gomes Cardoso Filho

1954 - 2021

Sempre bem-humorado, amava estar no seu bar e receber os clientes para uma boa conversa.

Homenagem da filha Regina para seu amado pai:

Seu José é lembrado por sua dedicação à família. Sua filha Regina conta que ele tinha orgulho da família que construiu. Mesmo tendo passado por perdas dolorosas ao longo da vida, nunca foi de lamentos e reclamações. Durante toda sua vida cuidou com muito amor das filhas e esposa.

Seu bar era um de seus lugares favoritos; em seu ambiente de trabalho gostava de receber seus clientes para compartilhar histórias. Ele celebrava encontros e uma boa conversa.

José gostava de assistir a um bom jogo de futebol ao lado das filhas, esposa e genro. Prezava pela reunião familiar para uma refeição farta, e ao se retirar da mesa, após o almoço, entoava sua frase preferida: “oração de São Raimundo, barriga cheia, pé no mundo”, lembra sua filha.

O pai de Regina tinha o costume de pesquisar o resultado do jogo do bicho na Internet e para este episódio ele tinha outra frase que gostava de anunciar: “Deu no poste!”.

Seu José foi das conversas, das prosas, das frases costumeiramente proferidas e para sempre lembradas, das reuniões em família. Foi pai, esposo e sogro, que valorizava o encontro e que se doava aos seus. Será para sempre lembrado por sua integridade e honestidade, e principalmente pelo amor e orgulho que dedicou à sua família.

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Homenagem da filha Natália para seu querido pai:

Na casa de José, os domingos só eram domingos se no almoço tivesse galinha caipira feita pela mão de sua amada esposa, como conta a filha Natália. O preparo começava um dia antes para garantir sabor e maciez à carne. Esse ritual nunca se quebrou. José buscava o pai de 94 anos para almoçar em casa e acordava as filhas para ajudar a deixar a casa arrumadinha e recebê-lo da melhor forma. "Era lindo ver o entusiasmo dele. A coisa mais gostosa era estar junto dele", diz a filha.

Os pais de Natália foram casados por trinta e nove anos. "Minha mãe fazia tudo que ele gostava de comer. E ele, que estava aposentado, dedicava-se a cuidar da minha mãe que possui problemas de saúde", diz Natália.

José trabalhou como peão de obra, faxineiro e, antes de se aposentar, porteiro. Era exemplar, não atrasava ou faltava no emprego. Aposentado há quatro anos, sempre que tinha um tempo livre e não estava ajudando a esposa nas tarefas de casa, descia para o seu bar. Lá, ele mais conversava com os clientes, que o consideravam como um pai, do que realmente trabalhava. No bar, José gostava de anotar combinações de números que mais saíam nos jogos de sorte da loteria para um dia oferecer uma vida com mais conforto à família que sempre amou. Tinha planos de ver todas as filhas casadas e com seus maridos e filhos, e queria ver sua esposa aposentada. "Ele queria ganhar na loteria e comprar uma casa pra todos os irmãos", conta Natália.

O maior talento do José era o volante. Gostava de repetir que era “macaco velho”, um piloto que dirigia todo tipo de automóvel. Sentia orgulho de nunca ter se envolvido em um acidente. "Considerávamos um talento também a sua capacidade de fazer gambiarras. Virava eletricista, marceneiro e dava conta de qualquer recado mesmo que na base do 'jeitinho'", comenta Natália.

Ainda jovenzinho, perdeu a mãe. Foi criado pela madrasta com mais 14 irmãos. "Foi uma criação rígida e pobre de amor", pontua Natália. Ao crescer, José, logo que pôde, partiu de Bananeiras, na Paraíba, para São Paulo.

Na nova cidade, trabalhou duro e construiu sua própria família com base no amor, honestidade e esperança. Casou-se, teve quatro filhas e, mais tarde, duas netas.

Ele gostava muito de festejar o seu aniversário. Batia palmas bem forte na hora do parabéns, e amava ver seus irmãos por perto. "Foi um pai inigualável. Mesmo com todas as lutas e dificuldades de uma vida simples, ofereceu educação, sustento e muito amor", comenta Natália.

O almoço do domingo, na casa de Natália, continuará sendo galinha caipira.

José nasceu em Bananeiras (PB) e faleceu em São Paulo (SP), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelas filhas de José, Regina Alves Cardoso e Natália Alves Cardoso. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Bárbara Tenório e Ticiana Werneck, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 27 de maio de 2021.