1935 - 2021
Em seu mundo particular, o menino que vivia dentro dele o acompanhou por toda a vida.
Nascido no interior catarinense, José Jurandir mudou-se para Curitiba em busca de um novo emprego para o sustento da sua família. Gostava de relembrar de sua infância e dizia que, naquela época, tudo era muito simples, mas difícil. O pano de fundo de suas histórias basicamente envolvia o trabalho, as brincadeiras no campo, sua juventude com os amigos e sua família. Gostava de ouvir lembranças de tempos antigos, sempre ressaltando que as crianças ajudavam bastante no trabalho da lavoura e iam a pé para a escola.
Adorava receber a família em sua casa para um café e almoços de domingo e, durante toda a vida, manteve os costumes de sempre ter um fogão a lenha em sua casa e de comer pinhão assado aos montes.
Ele foi casado por duas vezes. Primeiramente uniu-se a Maria Rosa e se separaram após 40 anos de união. Tiveram nove filhos: Roselis, Marilete, Maria José, Antônio Rildo, Siderlei, Valtencir, Vanderlei, Nilson e Cremilson. Como pai, sempre foi extremamente carinhoso e compreensivo: em hipótese alguma levantou a mão para bater nos filhos. Tinha como princípio educar os filhos através de conversas e aconselhamento.
Uma vez separado, casou-se com a Alzira e, no início, enfrentaram a resistência dos filhos. Entretanto, com o passar do tempo, pai e filhos foram se reaproximando e puderam desfrutar de momentos inesquecíveis. Aos poucos, ela foi participando dos eventos familiares e tornou-se membro da família, chamada inclusive de avó e bisa pelas crianças mais novas e, assim acabaram por viver juntos por vinte e quatro anos, até o seu falecimento.
A família do vô Zezo, como era chamado carinhosamente por todos os netos, é enorme! Os nove filhos lhe deram os netos Amanda, Kamily, Céres, Sandy, Fabrício, Fernanda, Keymily, Pedro, Lucas, Luís Gustavo, Luam, Eduardo, Isabella, Isadora, Bernardo, José, Bento que, dando continuidade à família, lhe fizeram bisavô de Isabella, Lívia, Antony, Murilo, Noah, Oliver, Miguel, Gabriel e Samuel, inclusive alguns nascidos após seu falecimento. Para os netos, gostava de contar suas histórias de trabalho e de amigos enquanto compartilhavam um delicioso café.
Como avô também era muito querido, inclusive por Milena, sua neta de consideração, cuja madrasta era filha dele e de quem auxiliou na criação. Ela o chamava de Pai Zezo e ele, em retribuição, a chamava de filha.
Milena fala sobre ele com muito carinho: “Para mim, ele foi a representação de um homem trabalhador, humilde, que, ao longo da vida, transformou seus erros em acertos, com extrema dignidade. Conversador que só, tornava-se impossível não se render às suas conversas agradáveis e interessantes. Com o seu jeito acolhedor, ao lado dele, as horas transformavam-se em segundos. A vida tinha mais graça.”
Por muitos anos, trabalhou em uma empresa que administrava e construía os trilhos dos trens, atuando como trabalhador braçal, responsável direto pela construção das ferrovias. Posteriormente, foi vigilante de empresas.
Depois de sua aposentadoria, não conseguia ficar parado e sempre buscou uma ocupação. Trabalhou por muitos anos como auxiliar de serviços gerais em mercearias.
Extremamente trabalhador, contava inúmeras histórias que aconteceram nos empregos, inclusive que certa vez se acidentou, machucando o pé. Mesmo ferido, precisou caminhar mais de 10 km até o hospital mais próximo. Nesse dia, não voltou para casa e a família, preocupada, soube notícias de seu paradeiro apenas no outro dia, já que o acesso a meios de comunicação eram escassos.
Percebia-se pelo brilho nos olhos, quão importante era o trabalho em sua vida; para ele, não havia atividade mais prazerosa do que sentir-se útil.
Torcedor apaixonado do Botafogo, fazia do futebol o seu passatempo favorito: adorava assistir partidas, mantendo-se atento os noventa minutos de jogo. Além disso, conversas sobre o desempenho dos times era assunto obrigatório nos almoços de domingo.
Nos últimos anos, o Alzheimer lhe deixou mais quieto, mais introspectivo e já não se lembrava de algumas coisas e nem tinha tantas lembranças dos momentos recentes, mas de qualquer modo, as inumeráveis histórias que colecionou ao longo do tempo, estavam sempre frescas em suas conversas e amou sua família até o fim.
José nasceu em Canoinhas (SC) e faleceu em Curitiba (PR), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelas filhas e pela neta de José, Roselis de Fátima do Rosário Alberti, Marilete Aparecida do Rosário e Milena Alberti. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 25 de maio de 2023.