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José Maria Pinto da Cruz

1964 - 2021

Viu os filmes Matrix tantas vezes, que já sabia as falas, e usava até uns óculos que lembravam os do Morpheus.

Ele era aquela pessoa que todo mundo gostava, especialmente as crianças: risonho, atencioso, paciente e compreensivo. Amava seus filhos biológicos e os que ele adotou no coração. No total, eram sete.

José Maria, o Zé, era um ótimo cozinheiro; fazia o pudim mais famoso da região e todo mundo que provava ficava apaixonado! "Ele cozinhava de tudo e foi conquistado pelo estômago, porque minha mãe também é incrível na cozinha. Disputavam pra ver quem era melhor, mas como o pudim dele era imbatível, ela desistiu de tentar e ele ficou anos e anos sendo o responsável pelo pudim", relembra sua filha, Suellen.

Muito trabalhador, Zé foi comerciante na Zona Oeste do Rio por décadas e foi lá também que conheceu a esposa: ele tinha uma lanchonete em Padre Miguel, ela se candidatou a um emprego e após um ano eles se apaixonaram.

Zé era muito presente para a família. "Quando tinha um dia de folga, limpava a piscina e fazia churrasco. Adorava chamar os parentes e os quatro netos pra fazer bagunça. Ele era apaixonado pelos netos. Gostava de agradá-los e sempre tinha energia para brincar com eles. Até quando chamava a atenção deles ele era calmo e dizia que 'criança faz bagunça mesmo'", conta Suellen.

José Maria era o motorista de aplicativo mais simpático e gentil que esse mundo já viu, e sempre se preocupava em agradar seus passageiros em todas as corridas.

Sonhava com um país mais responsável, consciente e igualitário, no qual todos pudessem ter uma vida de qualidade. Sempre que podia ajudar alguém, não hesitava. Ajudar aos outros era tão natural, que ele não pensava nisso como um favor e nunca esperava nada em troca.

José Maria assistiu aos filmes Matrix tantas vezes que já sabia as falas, usava até uns óculos que lembravam o personagem Morpheus. "Ele gostava de ver filmes e quanto mais ação, melhor. Ficava hipnotizado", conta Suellen.

Entendia tudo de carro e de piscina, deixava as águas sempre cristalinas. Sua famosa frase, daqueles dias em que tinha menos paciência, era: "Olha, não estou reclamando... só comentando"; quando todo mundo sabia que era uma maneira gentil de reclamar.

E não importava o frio que estivesse fazendo, o banho precisava ser bem gelado. Não arrumava problema com ninguém e gostava de resolver conflitos o mais rápido possível.

José Maria deixa uma história linda de zelo para com os seus, e um legado gigante de dedicação e empenho. Que o seu sorriso e calmaria se perpetue nos que ficaram, e tiveram a honra de conhecê-lo.

José nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Suellen Cristina dos Santos. Este tributo foi apurado por Luma Garcia, editado por Luma Garcia, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 9 de janeiro de 2022.