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José Martins de Souza

1952 - 2020

Zé da Picanha tinha pose de durão, mas era doce como um bolo de frutas de "Dia de Reis".

O pernambucano de alma cabo-friense era encantador e cativante.

Seu Zé ou Zé da Picanha, como era conhecido, nasceu em São José do Egito, no estado de Pernambuco, e, aos 12 anos, mudou para Cabo Frio, no Rio de Janeiro, após a separação dos pais. Apaixonou-se pela cidade, talvez porque o Rio de Janeiro seja tão apaixonante quanto o próprio José. Lutou muito pelo desenvolvimento de Cabo Frio e fazia questão de participar das reuniões políticas e jurídicas da cidade que escolheu como sua.

Teve três filhas: Camilla, Luciana e Cristina que aprenderam com o pai desde cedo o valor do trabalho e a importância do amor. Foi um pai presente, atencioso e, acima de tudo, amoroso. Sempre incentivou as filhas a conhecerem o mundo, e, ao mesmo tempo, ainda as considerava como "suas menininhas", mesmo depois de adultas. Com o pai, as filhas aprenderam que filhos são para sempre, mesmo quando crescem. Para José, cada realização das filhas era sua também. Quando se tornou avô, o amor que já era grande expandiu-se ainda mais, e recebeu de volta todo carinho e afeto que deu aos quatro netos.

Apaixonado pela família, estava sempre preocupado e disposto a ajudar. Foi um irmão e filho especial, diferente. Como a ex-esposa sempre dizia: nasceu sozinho em “Dia de Reis". Durante a pandemia, não se afastou dos familiares, muito pelo contrário, aproximou-se de todos os irmãos e foi deixando suas mensagens, seus conselhos... Talvez tenha pressentido que algo aconteceria, ou então, achou que a lição da pandemia era exatamente essa: Não importa o que aconteça ou o tamanho da distância, é sempre possível ficar unido através do amor.

Era empresário, proprietário do tradicional Restaurante do Zé. Também atuou como secretário municipal de Indústria e Comércio, como presidente da Associação Comercial Industrial e Turística de Cabo Frio (Acia) e na Câmara de Dirigentes Lojistas de Cabo Frio (CDL). Amava o que fazia. Trabalhou com afinco para prestar um serviço de excelência durante muitos anos em seu restaurante, conquistando assim muitos clientes, não apenas pela simpatia e pelo bom tempero, mas pela competência no trabalho que só José tinha.

Curioso e determinado, estava sempre pensando em melhorias que poderiam ser feitas no restaurante; ficava horas pesquisando inovações para sua “menina dos olhos". Não tinha muitos amigos, mas os poucos que possuía valiam por vários, pois eram amigos leais e reais.

Tinha mania de ficar coçando o alto da cabeça e de ficar olhando para o nada; esses gestos significavam que estava planejando alguma boa obra para fazer em algum lugar.

Era fã de churrasco e comidas do sertão nordestino como buchada de bode, e apaixonado por café. Gostava do mar, fosse para pescar, navegar ou admirar.

O pernambucano mais cabo-friense de todos deixa saudade, pois encantou muitas pessoas com seu jeito simples e verdadeiro. Amigos e familiares lembram-se com carinho do sorriso tímido e do jeito bondoso do querido Seu Zé. Ele será eterno de muitas formas. Viverá para sempre em um empreendedorismo bem feito, em uma xícara de café quentinho, ou numa gostosa pescaria em alto-mar.

José nasceu em São José do Egito (PE) e faleceu em Cabo Frio (RJ), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Luciana Mônica de Souza Martins. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz , revisado por Ana Macarini e moderado por Lígia Franzin em 30 de março de 2021.