1927 - 2020
Bom de ouvido, aprendeu inglês com os cowboys das matinês de domingo nos cinemas de Uberaba.
O filho do fazendeiro Dagoberto e da dona Cecy, seu Zé Naves, era o único homem dentre os cinco filhos do casal. Foi em sua cidade natal que ele aprendeu inglês: seus professores eram os cowboys das matinês de domingo, e aquele aluno bom de ouvido logo passou a dominar o idioma, que falava com uma certa entonação de John Wayne.
Decidido a trilhar o próprio caminho, mudou-se para São Paulo para estudar Química. Trabalhou em grandes fábricas como a Willys-Overland e a General Motors, e passou por muitas cidades ao longo de sua carreira: São Paulo, São José dos Campos e até mesmo Detroit, onde estagiou por dez meses. Encerrou a vida profissional como diretor técnico da Mafersa, a maior fabricante de material ferroviário do país.
Foi em uma festa em São Paulo que Zé conheceu uma linda pernambucana, química, como ele: a Nancy. Desse amor, que durou até a morte dela, aos 65 anos, nasceram seus filhos, Rodrigo e Rosana. Mas a vida reservava-lhe ainda outras paixões. Nutria um imenso carinho pelo neto, Zé Paulo e, já na viuvez, conheceu Helena, com quem construiu uma relação de muito afeto e companheirismo. Ao lado dela, inventava projetos que, mesmo que nunca saíssem do papel, eram suficientes para entusiasmá-lo: desde oficinas de produtividade até um dispositivo de sacolas que facilitaria a passagem de compras pelo caixa do supermercado, tudo isso ocupava a mente sempre ativa de José. E ele continuou aperfeiçoando seu inglês. Apesar de falar impecavelmente, ainda não se considerava à altura de seus mestres.
Durante muito tempo, travou uma briga contra o açúcar, e indicava para todos a leitura de livros que alertavam para o perigo do produto. Mas os anos passaram, e o próprio Seu Zé foi se adoçando... até não conseguir mais dizer não para um sorvete ou para um bom pedaço de bolo de coco.
Generosamente, dizia que todos eram “boníssimos”, quando, na verdade, ele próprio o era. Inteligente, alegre e carinhoso, seu Zé foi verdadeiramente boníssimo. Muito amado por todos que cruzaram seu caminho, esse homem especial sempre estará presente nos corações, hoje cheios de saudades, que ele marcou com tanto afeto.
José nasceu em Uberaba (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 93 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela ex-nora de José, Maria Thereza Pinheiro de Almeida. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Victoria Vital, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 31 de dezembro de 2020.