1950 - 2020
Pescar com os amigos era uma alegria. Voltava com mais histórias do que com peixes.
José Pedro era Atleticano fanático e nunca errava um horário de jogo, acompanhando atento a todas as partidas, sempre ao som da narração veloz que saía do rádio de pilha, fiel companheiro durante o bate-bola.
Ai de quem falasse mal do seu time de futebol favorito! Os filhos, às vezes, o provocavam de propósito, “cortenavam na esportiva”, como diz um deles, quando o placar era desfavorável para a camisa preta e branca, e ele perdia o bom humor.
Sujeito simples, honesto e justo. Desde cedo se tornou independente. Aos 14 anos saiu da pequena Itaverava e “ganhou trecho” indo para a capital paulista, onde começou a trabalhar como auxiliar de carga e ainda aprendeu a dirigir. Com a carteira de habilitação em mãos, avançou pelas rodovias do país como motorista de caminhão e foi fazendo a vida. Infelizmente, nessas idas e vindas, vivenciou um acidente rodoviário com vítima fatal. José Pedro ficou traumatizado e aquele homem tão guerreiro largou a profissão.
Com a decisão, buscou abrigo nas Minas Gerais da sua juventude. Já em Belo Horizonte, José Pedro começou nova vida como caseiro e ali conheceu Marlene, que trabalhava na mesma residência. Os dois tinham quatro filhos de casamentos anteriores, mas decidiram seguir juntos um novo caminho. Da união veio Giovani, que formou família com os irmãos por parte de mãe, dentre eles Ramom, que, a essa altura, tinha três anos. “Eu o considero como meu pai, porque ele me criou, educou”, fala Ramom. A emoção toma conta da voz quando rememora: “lembro que um dia fiquei contente porque ele foi no meu primeiro treino de futebol, eu tinha uns oito, nove anos. Na adolescência a gente também ia jogar bola juntos. Depois que eu me casei nos aproximamos mais ainda.
Por trás do jeitão duro, José Pedro escondia um coração bom, que se derreteu mesmo, com a chegada dos netos. “Ele ficou bem mais manso”, brinca Ramom, “era apaixonado pelos netos”.
Já aposentado, gostava muito de umas escapulidas para a pescaria em Paraopeba e na represa de Três Marias, acompanhado do cunhado Wallace e dos amigos Tião e Geraldo. “Passavam uns quatro dias acampados e retornavam mais com histórias do que com peixes”, graceja Ramom. Ele sempre dizia que, se pudesse, queria morar no meio do mato, à beira do rio.
José Pedro foi sinônimo de perseverança e amor. As duas maiores lembranças que a família pode ter deste homem.
José nasceu em Itaverava (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de criação de José, Ramom Ribeiro de Assis. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 11 de julho de 2021.