1942 - 2020
Roberto amava chocolatinhos e queria guardar todas as fotos da família para si. Fingia ser durão.
José Roberto de Castro foi o pai que se tornou filho. Quando novo, se sentia como se não precisasse da ajuda de ninguém. Era independente, tinha opiniões fortes, mas protegia e oferecia cuidado do jeito dele. À filha Camila, restava a maior parte de sua proteção. Chamava-a de “Bela”.
Em casa, Roberto guardava uma parte de si que era para poucos: suas ferramentas, as matérias de desenho. Passava horas mexendo nas suas coisinhas, um mundo que criou para si. Já com a idade, não tinha medo de morrer. O que ele não queria era sofrimento. Aos 76, Roberto foi diagnosticado com Alzheimer.
Acabou-se a capa de homem independente. Por isso, tornou-se filho. Bom de boca e exigente com o que comia, aprendeu a elogiar tudo o que chegava para ele - fosse comprado ou feito pela esposa. Pedia chocolatinhos à filha, que às vezes negava.
“No último Natal, meu pai ganhou uma cesta de produtos alimentícios e a felicidade dele era de uma criança. Não sei como explicar, mas esse episódio me emocionou e ainda me faz emocionar muito. Um sentimento puro, uma alegria espontânea dele, os agradecimentos…”, ressalta a filha de Roberto, Camila.
Companheiro do cachorro Luke, ao qual gostava de dedicar suas brincadeiras, Roberto falava do seu mundo para todas as pessoas. O filho que tinha conseguido um emprego na Microsoft, a filha que viajava por aí. Guardava fotos de todos e pedia para ampliá-las. Não podia perdê-los de vista.
Em decorrência da covid, porém, a família não conseguiu se despedir. Ficou um vazio, porque foi impossível de vê-lo após a entrada no hospital. Nas pessoas em que Roberto deixou marcas, há um sentimento de que ele poderia voltar para casa a qualquer momento.
José nasceu São Paulo (SP) e faleceu São Paulo (SP), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.
Jornalista desta história Josué Seixas, em entrevista feita com filha Camila Morgado de Castro, em 21 de maio de 2020.