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José Rodolfo Nunes de Faria

1967 - 2021

Era o irmão dos projetos. Com seu jeito organizado e atento, nada nem ninguém era invisível aos seus olhos.

Observador, nada passava despercebido pelo Rodolfo. Desde criança era assim. O mais velho de quatro irmãos, tinha o respeito e a admiração dos mais novos, em especial da irmã Maria Aparecida. "Desde a nossa infância, eu sempre vi o meu irmão como alguém muito inteligente e importante."

Na adolescência, Rodolfo, com seu jeito sempre muito organizado, tinha um quarto só para ele – ou melhor dizendo, para ele e seus discos de vinil. "Ele gostava de rock. Lembro dele nos ensinando a gostar do estilo. A banda favorita era os Rolling Stones. Já, de rock nacional, ele curtia Paralamas do Sucesso."

Além do vinil, Rodolfo gostava também de um radinho. Não perdia um programa do jornalista esportivo Milton Neves. "Ele era corintiano roxo e sempre mandava áudio para participar do programa de rádio", diz a irmã.

Não foi apenas no estilo musical que Rodolfo tentou influenciar os irmãos. Quando os pais se separaram, foi ele quem assumiu a responsabilidade pelos cuidados com a casa e tentou orientar ao máximo os mais novos em relação aos estudos e ao futuro.

Para ser um exemplo, ele era muito dedicado em ir atrás do que queria e "se sobressair na vida", diz Maria Aparecida. Assim, bem jovem, ele conseguiu uma bolsa de estudos para cursar Engenharia Mecânica, o que lhe rendeu um ótimo trabalho.

O emprego também lhe permitiu viajar e colocar seus planos aventureiros em prática. No começo da vida adulta, sozinho, mas não demorou muito para ter a companhia da esposa Joyce e dos filhos Giovanna e João Vitor. "De tempos em tempos, ele era transferido de estado e, para ele, isso era muito prazeroso e gratificante. Gostava muito de viajar e conhecer diversas culturas", conta a irmã.

De aventura, o Rodolfo entendia. Um dia ele pegou o seu carro e foi de São José do Campos, em São Paulo, até Porto Seguro, na Bahia. "Em casa, achamos aquilo uma aventura e tanto."

Mesmo nas aventuras, ele colocava as suas habilidades de organização em prática. "Para tudo ele tinha um projeto", lembra Maria Aparecida, que se acostumou a ouvir de todos em casa "o Rodolfo falou que é para fazer assim". E "assim" todos faziam. Ele era o irmão dos conselhos a serem seguidos.

Seus conselhos só não valiam quando o assunto era roupa. "O estilo dele era o do personagem 'Agostinho Carrara' [do programa A Grande Família]. Nada combinava com nada", conta a irmã com bom humor.

Rodolfo será sempre lembrado pelos seus grandes projetos, mas também pelos pequenos detalhes – do jeito como chamava os garçons de "hey, my friend", da amizade que tinha com Lord, seu cachorro, do seu gosto por colecionar uma porção de objetos, dos seus olhos sempre atentos a tudo e a todos.

José nasceu em São José dos Campos (SP) e faleceu em São José dos Campos (SP), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de José, Maria Aparecida Nunes do Prado. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Michele Bravos, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 2 de abril de 2022.