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José Ronaldo Alves de Oliveira

1975 - 2020

Generoso e cheio de empatia, escolheu aproveitar o lado bom da vida com música e festas em família.

Este testemunho foi enviado pela irmã de José Ronaldo, Rosineide Alves de Oliveira, como uma declaração de afeto, fraternidade e gratidão.

Éramos cinco irmãos, dois homens e três mulheres, ele era o mais velho de todos. Casado, tinha dois filhos muito inteligentes, uma esposa dedicada, companheira de todas as horas, numa convivência de respeito, amor e compreensão. Mas na hora de falar sério, era com ele mesmo, algumas vezes chegava até ser tachado de chato pelas broncas que dava, ainda que para o bem.

A relação dele com meus pais sempre foi de muita consideração e carinho mútuo. Minha mãe o tinha como seu melhor amigo. Ele sempre a levava para caminhar ou para pegar os filhos na escola, na natação, enfim... momentos únicos para ela. Sua fruta preferida, como todos sabem, era a banana. Na verdade, é a marca da nossa família: banana e ainda café com pão. Sempre que ele chegava na casa dela, partia em busca de bananas bem madurinhas, suas preferidas, e, claro, pai não deixava faltar.

Nossas festas de família não precisavam ter motivos. Se alguém fazia algo diferente na casa ou comprava algo novo ali, já era um pretexto para estarmos juntos, e a presença de Ronaldo sempre trazia mais alegria, pois adorávamos ouvir suas histórias de quando éramos crianças, falar sobre os filmes que assistia, tomar um bom vinho com seu cunhado e amigo Rudinei, parceiro de muitas horas.

Ele tinha um ótimo gosto musical, apreciava muito os Beatles, dentre tantas outras bandas internacionais. Mas também era fã da nossa música popular brasileira, desde pequena aprendi com ele a gostar de Legião Urbana, Titãs e Biquini Cavadão. Adorava ir a festas com sua esposa e amigos para prestigiar uma boa noite de música. Não tocava instrumentos, mas incentivou seus filhos a aprenderem a tocar violão. Mas o que ele gostava e sabia bem era cantar, tinha uma voz muito bonita.

Ronaldo era professor de inglês, lecionava em turmas de ensino fundamental 2 em uma escola estadual. O que mais gostava de fazer, contudo, era estar com sua família, viajar, curtir o lado bom da vida, esse era seu lema, aproveitar ao máximo o que a vida pode oferecer. E assim fez.

Sua maior peculiaridade era a empatia, colocar-se no lugar do outro e fazer com que as pessoas que estavam ao seu redor se sentissem bem, felizes. Ele sempre tinha uma palavra de conforto, as palavras certas, embora duras muitas vezes, para trazer segurança e tranquilidade para determinadas situações.

Ronaldo sempre foi um rapaz educado, um homem muito bom, um ser humano incrível, que aprendeu desde cedo que a vida não seria fácil, e de fato não foi. Passou por dificuldades e problemas de saúde, enfrentou muitos obstáculos até chegar aonde chegou. A vida o ensinou que não bastava ser um bom pai, um bom filho, um bom esposo, um bom irmão, mas um bom ser humano. Ronaldo cumpriu seu papel aqui, de fazer o bem sem olhar a quem, era uma pessoa muito generosa, tratava todos de maneira igual, sem distinção de raça ou crença. Na escola onde trabalhava, sempre se envolveu muito com a vida dos alunos, incentivando-os a buscarem uma melhor qualidade de vida, a não desistirem dos sonhos. E ele foi meu grande incentivador também na vida. Lembro de que, em 2010, teria um concurso numa cidade vizinha e eu ainda não tinha concluído a faculdade, aí falei com ele, disse que não iria fazer o concurso por essa razão, e ele, sem pestanejar, falou: "tente, arrisque, você não tem nada a perder". Fiz o concurso, passei e hoje sou grata a ele por todo o incentivo, pois é o meu sustento e dos meus filhos. Sou grata para sempre a ele por não ter me deixado desistir. A marca que Ronaldo deixou no mundo foi essa, lutar pelo que acredita e não desistir dos seus sonhos, mesmo que lhe digam o contrário.

Hoje eu me lembro com saudades do seu sorriso, do seu jeito com minha mãe, sempre pedindo a bênção a ela, dando um cheiro no seu cabelo, das nossas conversas, das nossas festinhas, mas sei que de onde você estiver está torcendo por cada um de nós e dando seu jeitinho de continuar nos fortalecendo. Obrigada, meu irmão.

José nasceu em Juazeiro do Norte (CE) e faleceu em Juazeiro do Norte (CE), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de José, Rosineide Alves de Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 16 de maio de 2021.