1950 - 2020
Mesmo sendo analfabeto do Cerrado, aprendeu a decifrar com inteligência todas as coisas.
José nasceu no ano da inesquecível Copa do Mundo de 1950 e faleceu 70 anos depois.
Foi homem íntegro, cidadão cumpridor dos seus deveres para com a sociedade e que aprendeu, desde muito cedo, a sobreviver por conta própria.
Casou-se jovenzinho, aos 15 anos. Teve quatro filhos e, infelizmente, apenas um sobreviveu e é quem lhe presta esta homenagem.
Era, ao mesmo tempo, ciumento e atencioso. Um excelente e amoroso pai dentro das suas possibilidades! Um avô apaixonado pela única neta. Grandioso sogro que, em vez de dar conselhos, os solicitava.
Amava escutar as conversas da esposa, às escondidas, por pura curiosidade e por achar engraçado quando flagrado. Tinha os sonhos de, com ela, morar em um apartamento e também de viajar pelo Brasil afora.
Tinha algumas manias que nunca serão esquecidas. Uma delas era chegar na casa do filho, bater no portão e perguntar se estava em casa, mesmo sabendo de antemão, que ele estava!
Foi um homem meio teimoso. Escapou de várias doenças com “estrepolia”. Gostava de fazer as coisas em casa à sua maneira e isso acabava rendendo algumas discussões. Honesto com seus compromissos, teimou em quitar suas dívidas, mesmo estando em quarentena e enfrentando o monstro da pandemia.
Carismático, gostava muito de fazer amizades e de, todas as tardes, sentar-se à porta de sua casa para esperar os amigos voltarem do trabalho e com eles prosear. Foi um exímio contador de histórias e também mestre em dar conselhos sobre a vida!
Foram inumeráveis as histórias engraçadas vividas. Certa vez, inventou de ser vendedor de picolés; um dos clientes, trabalhador da construção civil, na intenção de fazer uma brincadeira, chamou-lhe por seu apelido "Jiboia" e indagou se estavam muito caros os geladinhos. Ele, do nada, simplesmente pegou vários "cremosinhos" e os arremessou contra o cliente. Logo depois deste acontecimento, encontrou rapidamente uma maneira de vender o seu carrinho, dizendo para a esposa que tinha se cansado de ser vendedor.
Adorava construir coisas com suas habilidades de carpinteiro. Era cheio de invenções e um dos seus últimos projetos como “inventor” foi a motorização de uma bicicleta ─ só para poder ir para a igreja ─ e esta se tornou sua paixão durante três anos.
No trabalho foi um profissional muito bom, era respeitado não apenas pelos colegas, mas também pelos engenheiros e mestres-de-obras. Fez muitos amigos e tornou-se um professor para os colegas. Ajudou muitos que migraram da zona rural para a cidade e os iniciou no mundo da construção civil, fazendo com que estes lhe fossem muito gratos pelas orientações recebidas.
Gostava de ajudar o filho com veemência e, mesmo já estando com a saúde debilitada e sendo o filho um engenheiro e construtor, foi o Senhor José quem construiu sua, como um verdadeiro mestre.
Próximo ao final de sua vida, compartilhou fatos de sua infância dizendo que nunca se esquecia das histórias contadas por seu bisavô que, quando reunia todos os netos, sempre dizia que todo o mal, inclusive o que está acontecendo nos dias de hoje, estavam previstos nas profecias sagradas.
Nas palavras de Paulo, seu filho único, ele, “mesmo sendo analfabeto do Cerrado, aprendeu com inteligência a decifrar todas as coisas”.
Enfim, o Senhor José Santos da Silva foi um homem que deixou uma bonita história registrada nos corações de seus familiares e amigos.
José nasceu em Corumbá de Goiás (GO) e faleceu em Anápolis (GO), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho de José, Paulo Santos da Silva. Este tributo foi apurado por Júllia Cássia, editado por Vera Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de novembro de 2020.