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José Vicente Ferreira da Silva

1946 - 2020

Seus maiores amores foram seus filhos e netos, que herdaram dele sua maior paixão: o Corinthians.

O pernambucano Duda, como era chamado, mudou-se para a capital paulista na década de 1970, no início da vida adulta. À época, já havia se casado com Amália e visto nascer sua primeira filha, Vera, que tinha apenas 15 dias de nascida quando a mudança aconteceu. Juntos, o casal ainda teve Valdir, Vania e Cristina.

Durante o dia, Duda trabalhava como metalúrgico e, no fim da tarde, era recebido pelas crianças, no portão da chácara onde morava, ansiosas por uma boa partida de futebol. Mais tarde, a brincadeira continuava e todos se divertiam bastante brincando de esconde-esconde.

A dedicação marcou o coração dos filhos. Vera conta que o pai não tinha horário para estar na empresa e que se sacrificou muito para realizar os desejos dela e dos irmãos. Ele não conseguia comprar tudo de uma vez e fazia um verdadeiro jogo de cintura para agradar seus pequenos, mas os presentes que ficam são aqueles que não perdem para o tempo.

Duda nunca soube dessa história torta de que futebol não é coisa de menina. Sua paixão pelo esporte e, sobretudo pelo Corinthians, também foi passada para eles. Vera conta que o pai não gostava de ir ao estádio e que quando assistiam juntos aos jogos pela TV, ele era o típico torcedor que ora canta o hino do time durante a partida, ora esbraveja com os jogadores.

Com o passar dos anos, algumas coisas mudaram e outras nem tanto. O casamento chegou ao fim, mas o carinho prevaleceu. Mesmo após quinze anos de divórcio, Duda ainda visitava Amália e fazia questão de levar um dinheirinho para ela todos os meses como gesto de cuidado.

Os filhos viraram adultos e começaram a escrever suas próprias histórias de vida, mas os laços não se afrouxaram. Vera herdou do pai a aversão pelas disputas de pênaltis. "Eu não vou ver isso! Eu não quero ver!", costumava dizer Duda, dando voz a um sentimento que a filha conhece bem.

Duda ainda teve a oportunidade de contagiar seus nove netos com sua paixão pelo Corinthians. O resultado? Na família, é cada um mais fanático que o outro, mas não é só por isso que os corações deles batem de maneira especial ao se lembrarem do avô.

Raphael, primogênito de Vera, foi o primeiro neto homem. Seu nascimento provocou alegria imensa no avô; um sentimento tão forte que levou o Duda comprar a primeira bicicleta quando o menino tinha apenas dois meses de vida e estava só começando a entender o quão poderosos são esses laços afetivos.

Diogo, o caçula de Vera, era um dos xodós do avô. Quando um passava em frente à casa do outro, fazia questão de chamar lá de fora só para perguntar se estava tudo bem ou para deixar uma mensagem carinhosa. Por onde passava, Duda se tornava conhecido por seu bordão "Cê é doido mesmo, doido", um meme que passou a ser repetido por Diogo depois que o avô se foi.

E por falar em xodó, Isabelle, a quem Duda chamava de "minha branquinha", era a sua grande alegria! Amor para dar era algo que não faltava a esse vovô, e seus outros netos: Victor, Bruno, Arthur, Davi, Natasha e Maicon também sabem bem disso.

Duda foi um homem muito querido pelos seus, inclusive pelos amigos e colegas. Foi um pai e avô apaixonado, e o "grande amor" da filha Vera, que se dedicou ao seu "veinho" incansavelmente, nutrindo sentimentos e lembranças que são eternos.

José nasceu em Garanhuns (PE) e faleceu em São Paulo (SP), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de José, Veranilda Ferreira da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de novembro de 2020.